Antes de morrer devo ainda encontrar uma possibilidade de expressar o essencial que existe dentro de mim e que nunca ainda exprimi, algo que não é nem amor, nem ódio, nem compaixão, nem desprezo, mas que é o hálito quente da própria vida, vindo de longe, que traz para a vida humana a força imensurável, assustadora, admirável, inexorável das coisas sobre-humanas. Bertrand Russel (Filósofo e Matemático inglês, 1872-1970)
sábado, 26 de abril de 2025
(nem tão) Grande inventário de sensações
domingo, 9 de março de 2025
TESÃO
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O tesão que eu sinto não está nas formas geométricas do corpo
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
Dexter New blood: Um final inesperado, desconfortável e coerente.
Obs.: Esse texto contém spoilers e é dedicado, principalmente, mas não somente, àqueles que já assistiram o final da nona temporada.
Ao longo das oito temporadas anteriores, nós assistimos incansavelmente
o serial killer Dexter Morgan se safando de seus crimes das formas mais
inacreditáveis, e às custas de muitas vidas e de personagens chaves da trama do
seriado. Lembremo-nos, pois, do trágico desfecho da oitava e última temporada,
com a morte de sua irmã Debra Morgan. Uma personagem extremamente carismática e
importante na vida de Dexter.
Com certeza, não é à toa que essa lembrança nos é provocada pela presença dela, já no início de Dexter New Blood. Porém, na nova trama ela assume o papel de contrapeso psicológico, que até então fora desempenhado pelo pai dos dois, Harry. Dessa feita, ela é quem está na mente de Dexter o tempo inteiro contra-argumentado os seus impulsos mais espontâneos de serial killer. A dinâmica entre Debra e Dexter pode ser entendida simbolicamente como o conflito permanente entre o sentimento de culpa e a autojustificativa do dark passenger, e isso é fundamental para entendermos o desfecho da nona temporada. Porque essa última temporada na verdade não é sobre o Dexter, e sim sobre o seu filho, Harrison.
Então, o que vemos é a triste jornada de um adolescente, que depois de sofrer uma situação dolorosa de abandonos sucessivos, voluntários ou involuntários, segue em busca de um pai que – ele descobriu - forjou a própria morte e o abandonou. Tudo se torna ainda mais doloroso se lembrarmos o amor que Dexter dedica ao Harrison até o final fatídico da temporada oito, quando ele é levado a forjar a própria morte e desaparecer, deixando Harrison com Hannah, que anos depois morre de câncer, deixando Harrison para o sistema de adoção, onde o menino vai sofrer novos traumas e abandonos. O abandono aqui é uma chave muito importante de leitura.
Harrison e Dexter compartilham um fato importante: ambos nasceram em
sangue. Ambos presenciaram a morte violenta de suas mães. Rita, mãe de
Harrison, sendo uma das mortes na conta de Dexter, como consequência de sua
irresponsabilidade no trato com o serial killer Trinity. Logo, o
trauma de Harrison também pode ser colocado na conta do nosso carismático serial
killer. Portanto, Dexter tem dois fantasmas em relação ao filho: Seria
possível ter passado seu dark passenger geneticamente para o filho? & Presenciar
a morte de Rita, ainda que muito jovem, poderia ter feito nascer em Harrison um
dark passenger, como ele acredita que tenha acontecido com ele próprio?
O que logo percebemos em Harrison é uma raiva mal controlada e mal
direcionada. Um comportamento errático, agressivo e violento, fruto direto de
uma incapacidade de se conectar com o seu pai que, a despeito de todo o
esforço, mantém um abismo de segredos intransponível entre os dois. O
adolescente busca de alguma forma uma justificativa plausível do abandono cruel
que sofrera por parte do pai, ao mesmo tempo em que busca uma conexão de pai e
filho.
Dexter – e nós também enquanto telespectadores – é levado a ler o
comportamento de Harrison como a possível presença de um dark passenger.
O dilema que ele vive então é o de se abrir ou não com o filho. Baseado,
finalmente, na crença de que Harrison é como ele, e na reivindicação da
responsabilidade em passar “o código” ao filho, Dexter resolve revelar a
verdade irrestritamente ao jovem.
Nesse momento nós vemos uma virada tocante na dinâmica entre pai e
filho. Quando o mistério do motivo do abandono é finalmente exposto e
explicado, Harrison tem uma espécie de libertação da raiva. Isso fica muito
claro nas cenas subsequentes à revelação de Dexter ao seu filho,
principalmente, após o assassinato de Kurt, do qual o adolescente participa
como expectador e ouvinte. Até esse momento ainda somos levados a pensar que
Harrison pode ser um psicopata como o pai. Porém, logo somos instados a questionar
essa ideia, pois o personagem dele muda de acordo com a evolução da dinâmica
com seu pai.
A aceitação e o acolhimento, por parte de Harrison, da condição monstruosa
de seu pai, residem muito mais na possibilidade de conexão do que na
identificação com este. O caminho que ele encontra para chegar até o pai não é
a partir de um dark passenger compartilhado, mas sim pelo pai real que ele
finalmente vê revelado diante de si. Toda a raiva dá lugar a um menino
carinhoso e atencioso. Portanto, a fonte da raiva de Harrison não era um suposto
dark passenger, que ele teria herdado de Dexter, mas algo muito mais
óbvio, o abandono incompreendido que sofrera pelo pai.
A frase final de Harrison para seu pai é por demais dolorosa, e traz à tona aquilo que penso ser a essência do New Blood, a expiação e a desconstrução de Dexter como um suposto anti-herói:
- Eu não tenho raiva porque sou como você, eu tenho raiva por
causa de você.
Um final bastante doloroso, e inesperado, pois talvez esperássemos que pai e filho, se reconectando e sendo iguais, matassem juntos e felizes para sempre, combatendo criminosos por meio do “código”, algo deveras cínico, e que nos leva para uma outra reflexão desconfortável que o seriado propõe, pois aponta de forma afiada o dedo para o telespectador questionando finalmente sua torcida irrefletida pelo mal. Buscamos argumentos, assim como Dexter luta e sofre por buscar durante as nove temporadas inteiras, de que o quê ele faz é certo e um bem para a sociedade. “Ele limpa o lixo e torna o mundo um lugar melhor”. Afinal, “Quantas vidas ele salvou tirando a vida das suas vítimas?”
Mas, no fim de contas, o que o
desfecho do seriado nos faz lembrar de forma pungente é que Dexter é um psicopata
frio e perigoso, com apenas uma leve sombra de humanidade naquilo que se refere
ao seu filho, a única forma de amor que reconhece ter sentido, como ele mesmo
fala em suas últimas palavras. Em que pese essa sombra de amor ao filho, todas
as suas escolhas levaram inexoravelmente ao sofrimento incalculável não só deste,
como de todos em torno de Dexter, palavras do próprio filho nos momentos
dramáticos finais.
Harrison matar seu pai é
simbólico em grande medida, mas também é um ato de misericórdia, e porque não
dizer também de libertação, já que é exatamente esse o sentimento
que a fantástica atuação final de Michael C. Hall nos inspira. Um sentimento de
libertação final e de alívio.
O jovem finalmente compreende a atitude do pai, e percebe que ele esteve certo em se afastar, em ter fingido a própria morte. Mas também compreende que ele próprio precisava dessa jornada para entender o porquê do abandono paterno e superar o sentimento de rejeição, que era a fonte de toda sua raiva.
A reflexão amarga que nos fica
é: existe alguma justificativa plausível para o mal? O mal causado àquele que é
mau é de alguma forma justificável? E a cadeia de acontecimentos que essa
pretensa justiça engendra em si não pode causar ainda mais mal no mundo?
sábado, 23 de janeiro de 2021
Antropologia I
...
Há em mim uma batalha permanente e oscilante entre um instinto de autopreservação e um impulso autodestrutivo.
A vida é autodestrutiva, porque da destruição vem a renovação da vida, e dessa renovação vem a eternidade da força da vida. A vida que transcende o indivíduo, o cosmos.
Me pergunto se o instinto e o impulso estão conectados de alguma forma com o mistério do cosmos. Ou serão frutos da dimensão do indivíduo em sociedade? Ou uma mistura híbrida dos dois? Afinal... a civilização também é filha do cosmos...
O impulso autodestrutivo acelera o processo inevitável da destruição. Será um manifestação inconsciente de autopunição? Ainda que muitos atos autodestrutivos estejam a princípio na categoria de prazeres e deleites, como o consumo de álcool, cigarros e drogas, eles são, em última análise, atos autodestrutivos.
Será que é uma troca consciente? Estou destruindo um pouco de mim em troca de um prazer, e é isso, nada mais justo? Será simples assim? A vida me consome, por isso vou consumi-la também?
Seremos nós totalmente reduzíveis à antropologia?
...
domingo, 20 de maio de 2018
Excesso de juízes.
domingo, 21 de janeiro de 2018
Sobre ser feliz não basta.

20 de Setembro de 2015.
Parecer nenhum sobre nada. 04 de Abril de 2012.
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Fonte: https://lovecraftianscience.files.wordpress.com/2015/01/the_picture_in_the_house_by_mercvtio-d6uyq7i.jpg |
- Morte - 17 de Agosto de 2011.
Na vida real, a morte é bem mais prática e bem menos poética. Talvez por isso mesmo demore certo tempo para que nos demos conta da perda, do que ela de fato significa. É preciso chamar funerária, agendar horários, conseguir documentos que atestem a morte. O encapuzado de negro, com a foice na mão, não dá as caras, mas paira no ar, como uma cruel presença ostensiva, opressiva. Comprime nosso coração e o espreme até sair o suco salgado dos nossos olhos. Estupra nossa alma, nossa consciência, nos esgota com infinitas lembranças, infinitos remorsos irrevogáveis.
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Agradeço vó, por tudo.
Pelas sopas, pelo feijão com farinha de mandioca e pelos ovos cozidos.
Por me enganar na contagem das colheradas - nunca me dei conta de que o dez sempre coincidia com a última colherada do prato.
Obrigada, vó, pelas noites rezando terços, por me deixar controlar as contas do rosário e por me ensinar todas as orações, minhas primeiras leituras. Te agradeço por me ensinar a beleza poética da religião que sem nenhuma dúvida ajudou na formação do meu caráter.
Te agradeço, vó, por confiar em mim e deixar eu cortar teu cabelo quando ainda era criança, me senti tão importante.
Obrigada vó, por me comprar os vestidos de prenda, os chapéus de palha com rendinhas coloridas para andar no sol nos nossos longos passeios.
Obrigada por me ensinar que sentar na pedra fria faz mal pra bexiga.
Obrigada por me trazer um flan, um todinho ou um docinho em todos os finais de tarde de um pedaço grande da minha infância.
Por sentar no sol comigo, comendo laranja ou bergamota, e contar tantas histórias sobre a vida.
Te agradeço por narrar, ainda à luz da vela, naquela casinha de madeira, histórias de mistério que tanto me fascinaram.
E sei cá comigo, no fundo, que deveria ter dito isso tudo pra ti em vida. Mas não deu, não fiz. Talvez o tenha feito em gestos, mas nunca tão explícitos quanto podem ser as palavras claras. Deixo aqui esse sincero agradecimento, talvez muito mais para lembrar a mim mesma das tantas coisas boas que vivi e que aprendi contigo, do que para fazer um arremedo de agradecimento, um remendo na vida. Ainda assim, essas poucas palavras deixam ver apenas uma fina fresta de luz da importância que tiveste na minha vida.
Esteja em paz minha vó.
A morte não é um mistério que amedronta.
Ela é uma velha conhecida nossa.
Ela não esconde segredos que possam perturbar o sono de um homem honesto.
Não vires o teu rosto ao ver a Morte.
Não te incomodes se ela parar tua respiração.
Não a temas, porque ela não é o teu amo que vem em tua
perseguição.
Não o teu amo, mas um simples servo do teu Criador,
aquilo ou Aquele que criou a Morte, e te criou — e que é,
ele sim, o único mistério.
— LIVRO DAS LAMENTAÇÕES
Anos 80. 24 de Maio de 2011.
CREOLINA. 5 de Maio de 2011.
sábado, 20 de janeiro de 2018
O processo da revolução. 4 de Fevereiro de 2011.
Todos sabem e citam a Revolução Francesa - 1789. Realmente foi algo de uma dimensão incrível e que mudou para sempre os rumos das relações políticas no mundo todo. Abriu caminho para uma série de transformações, sem dúvida. Contudo, teve sua índole corrompida. Na chamada fase do Terror (1793) - e ao longo de todo o processo, mas mais acentuadamente nessa fase - a revolução vira uma verdadeira tirania, e cabeças rolam por toda a França, nas guilhotinas, que encarnam verdadeiros símbolos de opressão e ameaça. Robespierre, principal líder do período, estava mais para uma Rainha de Copas: - Cortem-lhe a cabeça! O novo sistema deve se manter a qualquer custo! E todos que discordarem são acusados de crime contra a pátria, de atos contra-revolucionários.
E não longe dali, depois de uma série de desacertos, alterações convenientes e contraditórias no ideário revolucionário e atos que desvirtuaram completamente o espírito da revolução, logo ali, em 1799, a monarquia retorna a França, sob uma forma militar e violenta, na figura de Napoleão Bonaparte. Repito: a monarquia retorna a França. Em 1799.
O que quero com esse modesto e breve comentário acerca de um assunto tão complexo, é, simplesmente, mostrar que as coisas não são lineares como nos colocam, nem compartimentadas, fragmentadas. O buraco é muito mais embaixo. As mudanças demandam processos infinitamente complexos e longos, e isso é natural. É preciso que olhemos tendo em vista um horizonte mais amplo, e um pensamento mais crítico e inquisitivo.
A seguir, coloco algumas passagens da primeira versão da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Lendo-as, entenderão o que eu quis dizer.
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Napoleon crossing the Alps at the St. Bernard Pass, 20th may 1800. Jacques-Louis David, 1800-01. |
I - Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos; as distinções sociais não podem ser fundadas senão sobre a utilidade comum.
II - O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem; esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
III - O princípio de toda a soberania reside essencialmente na razão; nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane diretamente.
IV - A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique a outrem. Assim, o exercício dos direitos naturais do homem não tem limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo desses mesmos direitos; seus limites não podem ser determinados senão pela lei.
V - A lei não tem o direito de impedir senão as ações nocivas à sociedade. Tudo o que não é negado pela lei não pode ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordenar.
VI - A lei é a expressão da vontade geral; todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou por seus representantes, à sua formação; ela deve ser a mesma para todos, seja protegendo, seja punindo. Todos os cidadãos, sendo iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo sua capacidade e sem outras distinções que as de suas virtudes e de seus talentos.
XI - A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo o cidadão pode, pois, falar, escrever e imprimir livremente; salvo a responsabilidade do abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei.
XII - A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; essa força é então instituída para vantagem de todos e não para a utilidade particular daqueles a quem ela for confiada.
XV - A sociedade tem o direito de pedir contas de sua administração a todos os agentes do poder público.
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Liberdade guiando o povo. Eugene Delacroix, 1830. |
Peripécias de Luíza Lopes. 14 de Dezembro de 2010.
A sincronia dos pássaros me apavora. 19 de Novembro de 2010.
Aos homens, com carinho. 14 de Janeiro de 2010.
O caso do "sem alma". 16 de Novembro de 2009.
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Ninguém é de ninguém. 01 de Outubro de 2009.
Lugar comum. 25 de Julho de 2009.
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Aquele dos vampiros - 02 de Junho de 2009.
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* Esta pode ser uma obra de ficção, ou não. Qualquer semelhança com fatos, lugares ou pessoas pode ser real, ou não.
terça-feira, 16 de maio de 2017
Mais um pouco sobre ser mãe.
Escrito em 07.12.2015
sábado, 30 de julho de 2016
O paradoxo do machismo
