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domingo, 20 de maio de 2018

Excesso de juízes.

Demorei uma jornada para perceber julgamentos muito sutis que eu fazia - como todos nós, inclusive - o tempo todo. E vou dizer, continua sendo um exercício diário e cotidiano pra mim. Quase todo dia me enxergo fazendo algum julgamentozinho, por mínimo que seja, e sinto que todas as vezes minha autopercepção se alarga um pouco mais e me atento pra mudar um pouquinho, também, por mínimo que seja.Todo dia tento enxergar ao avesso tantas e tantas coisas que sempre pareceram tão prontas e definitivas. Coisas que, percebi, estão, sim, prontas, pois foram construídas, mas não são definitivas porque podem e devem ser desconstruídas.
Demorei algum tempo, por exemplo, para perceber que gostar da artista/mulher Rihanna não implica que eu seja uma mulher como ela. Muito menos, implica que eu tenha que ter algum julgamento moral sobre ela que atribua juízo de valor sobre o seu comportamento. Riahnna é uma mulher/artista despudorada - pois não tem pudor - que traz a liberdade sexual feminina como a tônica da sua arte, e a arte é sempre um exagero do sentir, no melhor dos sentidos. Não há nada errado em ser como ela, ou em ser como eu. Somos diferentes, nem melhor, nem pior. Também venho desconstruindo uma visão carola e PUDORástica do sexo, herança de um catolicismo neurótico que demoniza a sexualidade de uma jeito que está mais entranhado em nossa cultura do que podemos sequer imaginar.
Existem matrizes de pensamento e percepção. Mesmo quando pensamos sobre temas diferentes, ou com abordagens diferentes, estamos, via de regra, submetidos à essas matrizes. São essas matrizes que devem ser percebidas, examinadas e alteradas, e isso é muito difícil. Requer exercício mental, reflexão, empatia, humildade, bondade e conhecimento.
Todavia, tudo isso posto, nada disso me impede de problematizar e refletir, a nível pessoal e aberto, sobre o impacto de artistas "sex symbols", para o feminismo. Afinal, quais as consequências e o papel da objetificação sexual de mulheres artistas na cultura contemporânea. E se, por ventura, eu achar que pode haver algum aspecto negativo, isso não implica nenhuma culpabilização pessoal da Riahnna.
Da mesma forma, comecei a entender que minha posição sobre o aborto não implica que eu seja menos feminista ou que eu seja contra a sua descriminalização e, o mais importante, não implica que eu seja contra as mulheres que viveram ou viverão um aborto. Muito em contrário. Meu pensamento reside justamente na cicatriz emocional que, quero crer – talvez com alguma ingenuidade – as mulheres carregam pro resto das suas vidas quando passam por isso. Se é um evento traumático, por que não problematizá-lo, por que não refletir sobre? Isso não implica, de forma alguma, o julgamento de ninguém.
A vida está carente de debates que tenham por objetivo unir. O debate solidário, o debate que promove a empatia e a reflexão sobre a perspectiva do outro. Em todo lado as pessoas estão de digladiando, se odiando, se xingando, ridicularizando umas as outras, e isso é muito triste de se ver.
É difícil ter esperança por esses dias...

Fiquem agora com a musa Rihanna


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Feminismo no Brasil

"Diferente do que ocorre em outros países, existe entre nós uma forte resistência em torno da palavra “feminismo”. Se lembrarmos que feminismo foi um movimento legítimo que atravessou várias décadas, e que transformou as relações
entre homens e mulheres, torna-se (quase) inexplicável o porquê de sua desconsideração pelos formadores de opinião pública. Pode-se dizer que a vitória do movimento feminista é inquestionável quando se constata que suas bandeiras
mais radicais tornaram-se parte integrante da sociedade, como, por exemplo, mulher frequentar universidade, escolher profissão, receber salários iguais, candidatar-se ao que quiser.... Tudo isso, que já foi um absurdo sonho utópico, faz parte de nosso dia a dia e ninguém nem imagina mais um mundo diferente.
Mas se esta foi a vitória do movimento feminista, sua grande derrota, a meu ver, foi ter permitido que um forte preconceito isolasse a palavra, e não ter conseguido se impor como motivo de orgulho para a maioria das mulheres. A reação desencadeada pelo antifeminismo foi tão forte e competente, que não só promoveu um desgaste semântico da palavra, como transformou a imagem da feminista em sinônimo de mulher mal amada, machona, feia e, a gota d’água, o oposto de “feminina”. Provavelmente, por receio de serem rejeitadas ou de ficarem “mal vistas”, muitas de nossas escritoras, intelectuais, e a brasileira de modo geral, passaram enfaticamente a recusar tal título. Também é uma derrota do feminismo permitir que as novas gerações desconheçam a história das conquistas
femininas, os nomes das pioneiras, a luta das mulheres de antigamente que, de peito aberto, denunciaram a discriminação, por acreditarem que, apesar de tudo, era possível um relacionamento justo entre os sexos. (...)
Penso que o “feminismo” poderia ser compreendido em um sentido amplo, como todo gesto ou ação que resulte em protesto contra a opressão e a discriminação da mulher, ou que exija a ampliação de seus direitos civis e políticos, seja por iniciativa individual, seja de grupo. Somente então será possível
valorizar os momentos iniciais desta luta – contra os preconceitos mais primários e arraigados – e considerar aquelas mulheres, que se expuseram à incompreensão
e à crítica, nossas primeiras e legítimas feministas." (Constância Lima Duarte, Feminismo e literatura no Brasil, 2003) Texto integral disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v17n49/18402.pdf