Stephen King é, sem dúvida, meu escritor favorito. Não só pelas histórias arrepiantes, criativas e emocionantes que saem da sua cachola, mas também pela forma simples, limpa e direta com que escreve, sem rodeios, sem floreios desnecessários. Ele é "O Mestre King", e ler um livro dele é uma ótima leitura garantida.
Às vezes nem dá pra saber o que é melhor, se as histórias do escritor, ou se os prefácios, introduções e epílogos que ele coloca em suas obras com tanta sinceridade, explicando seus processos de criação, de onde vem sua inspiração para tais e tais obras. Enfim, o cara é "O Cara".
Essa coletânea reúne 14 contos verdadeiramente intensos, incluindo uma prequela do nosso querido pistoleiro Roland Deschain (ícone do épico A Torre Negra), que narra um episódio que antecede seu encontro com o Homem de Preto, início da série.
Bom não tem como apontar quais os melhores contos, pois todos são ótimos na minha opinião. No prefácio deste livro, King faz uma breve reflexão, muito interessante, sobre os rumos do conto como gênero literário.
Vale a leitura, você nem vai perceber que já está no final do livro.
Seguem algumas notas que fiz do livro:
[...] não há motivo algum para que sejam comercializadas pelos
mesmos velhos métodos-do-vovô, assim como não há qualquer motivo para se
presumir (como tantos críticos tediosos têm feito na imprensa) que a maneira
como um trabalho de ficção é vendido, de algum modo, contamina ou barateia o
produto.
Se estou numa dessas salas de espera de aeroporto metidas a
besta, geralmente sou ignorado pelo resto da clientela, ocupada em tagarelar ao
telefone ou fazer negócios no bar. Por mim, tudo bem. De vez em quando, um desses
homens aproxima-se e me pede para autografar um guardanapo de papel para a
mulher. Esses sujeitos com ternos magníficos e pastas de executivo geralmente
me contam que a mulher leu todos os meus livros. Por outro lado, eles não leram
nenhum. Querem que eu saiba disso também. São ocupados demais. Leram Os Sete
Hábitos das Pessoas Muito Bem-sucedidas, leram Quem Mexeu no meu Queijo? Leram
A prece de Jabez e ponto. Tenho que correr, tenho que me apressar, tenho um
enfarte marcado para daqui a uns quatro anos e quero ter certeza de ir ao
encontro dele com meus papéis em ordem.
As irmãzinhas de Eluria:
Para Roland, o Deus da Cruz era apenas outra religião ensinando
que amor e assassinato estavam indissoluvelmente ligados — e que, no final,
Deus sempre bebia sangue.
À sua direita agora, a meio caminho de onde a rua se abria para
a praça da cidade, ficava a igreja, com faixas de relva dos dois lados: uma
separando-a do Salão de Reunião, e outra separando-a da pequena casa construída
ao lado para o pastor e sua família (isto é, se aquela era uma das seitas de
Jesus que permitia a seus xamãs terem esposas e famílias; algumas, claramente
administradas por lunáticos, exigiam pelo menos a aparência de celibato.Tudo é eventual:
[...] gente criativa não está sempre no controle das coisas. E
quando fazem seu melhor trabalho, raramente estão no controle. Estão apenas
rolando por ali, de olhos fechados, berrando iupii!
Introdução ao conto A teoria de L.T. sobre animais de estimação:
Para mim, essa recompensa é o que importa. Quero fazer você rir
ou chorar ao ler uma história... ou as duas coisas ao mesmo tempo. Em outras
palavras, quero o seu coração. Se a sua intenção é aprender algo, vá para o
colégio.
Quando a pessoa levanta de manhã, não tem a mínima idéia do
quanto a sua vida pode estar mudada ao pousar de novo a cabeça no travesseiro,
à noite. “Você não conhece o dia ou a hora”, diz a Bíblia. Acredito que esta
frase seja sobre a morte, mas ela se ajusta a todo o resto, rapazes. Todo o
resto neste mundo. A gente nunca sabe quando está bebendo a última gota.
É
possível que a maior divisão do mundo não se dê entre homens e mulheres, e sim
entre os que gostam de gato e os que gostam de cachorro.
Num casamento, as palavras são como chuva. E a terra de um
casamento está cheia de valas e arroios que podem se tornar rios furiosos num
piscar de olhos. Os terapeutas acreditam na fala, mas a maioria deles é
divorciada ou gay. O silêncio é o melhor amigo do casamento.
Ninguém pode conhecer o resultado final de suas ações, e poucos
chegam a tentar fazê-lo; a maioria de nós faz o que faz para prolongar o prazer
de um momento ou parar a dor. E mesmo quando agimos pelos motivos mais nobres,
do último elo da corrente freqüentemente pinga o sangue de alguém.
Este provavelmente é o grande tema da ficção de horror: a
necessidade de lidar com um mistério que só pode ser entendido com a ajuda de
uma imaginação cheia de esperança.
Passei a entender que há coisas por baixo das coisas, sabe — por
baixo das coisas — e nenhum livro pode explicar o que são. E às vezes é melhor
esquecer que essas coisas estão aí. Isto é, se a gente puder.
[...] às vezes rir dos idiotas era a única vingança que se podia
ter.
A moeda da sorte:
A sorte era uma piada. Mesmo a boa sorte era apenas má sorte com
o cabelo penteado.