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sábado, 23 de janeiro de 2021

Antropologia I

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Há em mim uma batalha permanente e oscilante entre um instinto de autopreservação e um impulso autodestrutivo.

A vida é autodestrutiva, porque da destruição vem a renovação da vida, e dessa renovação vem a eternidade da força da vida. A vida que transcende o indivíduo, o cosmos.

Me pergunto se o instinto e o impulso estão conectados de alguma forma com o mistério do cosmos. Ou serão frutos da dimensão do indivíduo em sociedade? Ou uma mistura híbrida dos dois? Afinal... a civilização também é filha do cosmos... 

O impulso autodestrutivo acelera o processo inevitável da destruição. Será um manifestação inconsciente de autopunição? Ainda que muitos atos autodestrutivos estejam a princípio na categoria de prazeres e deleites, como o consumo de álcool, cigarros e drogas, eles são, em última análise, atos autodestrutivos.

Será que é uma troca consciente? Estou destruindo um pouco de mim em troca de um prazer, e é isso, nada mais justo? Será simples assim? A vida me consome, por isso vou consumi-la também?

Seremos nós totalmente reduzíveis à antropologia?


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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Pesadelo em Macondo

Nessa noite tive um sonho. Um sonho muito ruim. Horrível. Mas que me fez renovar meus sentimentos de gratidão pela vida maravilhosa que tenho.

Morávamos na nossa antiga casa, e começou a chover muito. Muitas goteiras surgiram e o teto de gesso começou a ceder, chovia muito dentro de casa. Corri, peguei bacias e mais bacias, mas não eram suficientes, chovia quase como na rua.
Chovia sobre os móveis, apodrecendo-os, chovia sobre os eletrônicos, estragando-os. A água escorria pelas paredes, derretendo-as. Um cenário digno da Macondo de Márquez . A fiação elétrica começou a ficar exposta, e nós, expostos aos choques. Minha vó, tentando se equilibrar numa água que já subia até seu joelho, levou um choque terrível que deu um clarão na casa inteira. Fui em seu socorro e, aliviada, vi ela dizendo que estava bem, ao mesmo tempo que me empurrava para fugirmos dali, dos choques. Os fios elétricos dançavam ao embalo do vento que invadiu nossa casa, já com as paredes desmoronadas. E nós tentávamos fugir daqueles fios de morte dançantes, mas era como se estivéssemos presas ali.
O sentimento todo foi de muito desamparo, de angústia aguda, de desespero. Muito triste.
Acordei de sobressalto naquela angústia dos sonhos, e o alívio que senti quando percebi que estava protegida debaixo das minhas cobertas quentes, sob o teto aconchegante da minha casa, foi indescritível.
Sempre sou muito grata por tudo que tenho na vida. Para aqueles que não me conhecem, meu maior medo na vida é virar mendiga. É bobo, é estranho, sei, e não sei o por quê. É algo que vem comigo desde a adolescência quando consegui meu primeiro emprego e achava que se perdesse aquele emprego nunca mais encontraria outro e acabaria na sarjeta como mendiga. E talvez Freud poderia dizer que é algo que vem comigo desde muito antes.

Por isso, valorizo muito uma coberta, uma boa refeição, um teto sobre minha cabeça, a saúde, minha e dos meus familiares amados. Não apenas me satisfaço, mas me regozijo com o que muitos dizem ser pouco, mas que eu considero ser tudo. E para alguns, talvez, isso soe como conformismo. Pra mim, soa como felicidade: sentir-se feliz exatamente com aquilo que se tem e não sofrer na ânsia por mais nada, exceto o desejo que esse sentimento se mantenha.  

Fonte: http://excahm.deviantart.com/art/Mugen-Stage-Rainy-Ruins-473004606