Sou zoólogo e o macaco pelado é um animal. É, portanto, caça ao alcance da minha pena e recuso-me evitá-lo mais tempo, só porque algumas das suas normas de comportamento são bastante complexas e impressionantes. A minha justificativa é que, apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo sapiens não deixou de ser um macaco pelado, e embora tenha adquirido motivações muito requintadas, não perdeu nenhuma das mais primitivas e comezinhas. Isto causa-lhe muitas vezes certo embaraço, mas os velhos instintos não o largaram durante milhões de anos, enquanto os mais recentes não têm mais de alguns milhares de anos – e não resta a menor esperança de que venha a desembaraçar-se da herança genética que o acompanhou durante toda a sua evolução. Na verdade, o Homo sapiens andaria muito menos preocupado e sentir-se-ia muito mais satisfeito, se fosse capaz de aceitar esse fato. É talvez nesse sentido que um zoólogo pode ajudar.
Antes de morrer devo ainda encontrar uma possibilidade de expressar o essencial que existe dentro de mim e que nunca ainda exprimi, algo que não é nem amor, nem ódio, nem compaixão, nem desprezo, mas que é o hálito quente da própria vida, vindo de longe, que traz para a vida humana a força imensurável, assustadora, admirável, inexorável das coisas sobre-humanas. Bertrand Russel (Filósofo e Matemático inglês, 1872-1970)
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
O macaco nu. Desmond Morris, 1967.
Sou zoólogo e o macaco pelado é um animal. É, portanto, caça ao alcance da minha pena e recuso-me evitá-lo mais tempo, só porque algumas das suas normas de comportamento são bastante complexas e impressionantes. A minha justificativa é que, apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo sapiens não deixou de ser um macaco pelado, e embora tenha adquirido motivações muito requintadas, não perdeu nenhuma das mais primitivas e comezinhas. Isto causa-lhe muitas vezes certo embaraço, mas os velhos instintos não o largaram durante milhões de anos, enquanto os mais recentes não têm mais de alguns milhares de anos – e não resta a menor esperança de que venha a desembaraçar-se da herança genética que o acompanhou durante toda a sua evolução. Na verdade, o Homo sapiens andaria muito menos preocupado e sentir-se-ia muito mais satisfeito, se fosse capaz de aceitar esse fato. É talvez nesse sentido que um zoólogo pode ajudar.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Pergunte ao pó. John Fante, 1939
FANTE, John. Pergunte ao pó. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. 205 p.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A hora da estrela. Clarice Lispector, 1977.
Pandora. Anne Rice, 1997.
RICE, Anne. Pandora : Novos contos vampirescos. 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 205 p.:
E estou sempre vendo indícios de amor à minha volta nesse mundo. Por trás da imagem da Virgem Abençoada e seu Menino Jesus, por trás da imagem do Cristo Crucificado, por trás da recordação daquela estátua de basalto representando Ísis. Vejo amor. Vejo amor no esforço humano. Vejo a inegável penetração do amor em todas as realizações humanas, na poesia, na pintura, na música, nas relações interpessoais e na recusa à aceitação do sofrimento como destino. (Pandora, p. 198)
sábado, 10 de outubro de 2009
O queijo e os vermes. Carlo Ginzburg, 1976.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez, 1982
"Coisa bem diferente teria sido a vida para ambos se tivessem sabido a tempo que era mais fácil contornar as grandes catástrofes matrimoniais do que as misérias minúsculas de cada dia. Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada." P. 39
"Abalou-a um pensamento vago: "As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas."" P. 69
"Lembrou a ele que os fracos não entram jamais no reino do amor, que é um reino impiedoso e mesquinho, e que as mulheres só se entregam aos homens de ânimo resoluto, porque lhes infundem a segurança pela qual tanto anseiam para enfrentar a vida." P. 86
"Está bem, me caso com o senhor se me promete que não me fará comer berinjela." P. 94
"Seu padrinho o homeopata, que participava por casualidade da conversação, não achava que as guerras fossem um inconveniente. Achava que não passavam de pendências de pobres jungidos como bois pelos senhores da terra, contra soldados descalços jungidos pelo governo.
- A guerra está na montanha – disse. – Desde que eu sou eu, nas cidades não nos matam com tiros, e sim com decretos." P. 96-97
"Ela lhe parecia tão bela, tão sedutora, tão diferente da gente comum, que não compreendia que ninguém se transtornasse como ele com as castanholas dos seus saltos nas pedras do calçamento, ou tivesse o coração descompassado com os ares e suspiros de suas mangas, ou não ficasse louco de amor o mundo inteiro com os ventos de sua trança, o vôo de suas mãos, o ouro do seu riso. Não perdera um gesto seu, nem um indício do seu caráter, mas não se atrevia a se aproximar dela pelo medo de desfazer o encanto." P. 129
"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado." P. 134
"Impressionaram-na sua simplicidade e sua seriedade, e a raiva cultivada com tanto amor durante tantos dias se apaziguou de pronto." P. 155
"Na plenitude de suas relações, Florentino Ariza se perguntara qual dos dois estados seria o amor, o da cama turbulenta ou o das tardes aprazíveis dos domingos, e Sara Noriega o tranqüilizou com o argumento singelo de que tudo que fizessem nus era amor. Disse: “Amor da alma da cintura para cima e amor do corpo da cintura para baixo.”" P. 246
" - Por obra e graça de um casamento, de interesse com um homem que não ama – interrompeu Sara Noriega. – É a maneira mais baixa de ser puta." P. 248
"Isso era a vida. O amor, caso houvesse, era uma coisa à parte: uma outra vida." P. 251
"A vida mundana, que tantas incertezas lhe trazia antes de conhecê-la, não passava de um sistema de pactos atávicos, de cerimônias banais, de palavras previstas, com o qual se entretinham uns aos outros na sociedade para não se assassinarem." P. 261
"A vida ainda havia de confrontá-los com outras provas mortais, sem dúvida, mas já não tinha importância: estavam na outra margem." P. 278
"Mas aquela tarde perguntou a si mesmo com sua infinita capacidade de ilusão se uma indiferença tão encarniçada não seria um subterfúgio para dissimular um tormento de amor." P. 284
"- Vou fazer cem anos, e já vi mudar tudo, até a posição dos astros no universo, mas ainda não vi mudar nada neste país – dizia. – Aqui se fazem novas constituições, novas leis, novas guerras cada três meses, mas continuamos na Colônia." P. 329
"Com ela aprendeu Florentino Ariza o que já padecera muitas vezes sem saber: pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma. Solitário entre a multidão do cais, dissera a si mesmo com um toque de raiva: “O coração tem mais quartos que uma pensão de putas.”" P. 334
"Mas a raiva voltava sempre, e em breve percebeu que o desejo de esquecê-lo era o mais forte estímulo para se lembrar dele." P. 349
“A humanidade, como os exércitos em campanha, avança na velocidade do mais lento.” 385
"Sem perceber, começava a protelar seus problemas na esperança de que a morte os resolvesse." P. 390
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Morangos mofados - Caio Fernando Abreu, 1982
quarta-feira, 3 de junho de 2009
A convidada - Simone de Beauvoir - 1943
“É divertido pensar em como são as coisas em nossa ausência [...] É como tentar pensar que estamos mortos. Na verdade nunca o conseguimos; sempre achamos que estamos num canto, vendo tudo”. P. 14
“Continuo a pensar, apesar de tudo, que não sou feita da massa com que se constroem as vítimas”. P. 56
“Você, no fundo, está procedendo como todas as pessoas que afirmam não ter preconceitos: pretendem que só obedecem por gosto pessoal. Mas tudo isso são histórias”. P. 57
“Não é a mentira que me incomoda. O que acho monstruoso é que as pessoas tomem decisões sobre elas próprias dessa forma, como por decreto”. P. 67
“[...] O dia passara a espera dessas horas e agora elas corriam vazias e constituíam apenas uma espera [...] Tudo, afinal, era uma corrida sem objetivo. Somos lançados indefinidamente para o futuro, mas quando este se torna presente, é preciso fugir”. P. 90
“Para você, a colaboração intelectual consiste numa aprovação idiota de todas as suas opiniões”. P. 95
“Talvez seja porque amo demais. Quis dar mais do que aquilo que você podia receber. E, quando somo sinceros, dar é uma maneira de exigir”. P. 97
“[...] se os remorsos apagassem tudo, as coisas seriam muito fáceis”. P. 129
“Ora, uma decisão, quando começamos a duvidar dela, torna-se perturbadora”. P. 153
“Não há nada, em parte alguma, que se deva invejar, lamentar ou temer. O passado, o futuro, o amor, a felicidade, tudo isso não passa de sons que emitimos com a boca”. P. 155
“As palavras nada mais podem fazer do que nos aproximar do mistério, sem o tornarem menos impenetrável”. P. 159
“O amor não é um segredo vergonhoso. Parece-me uma fraqueza não querer olhar de frente o que se passa dentro de nós”. P. 244
“[...] só poderemos lutar contra a sociedade de maneira social”. P. 282
“Se eu tivesse verdadeiramente importância para alguém, talvez conseguisse valer um pouco mais para mim próprio. Assim, não chego a dar valor à minha vida nem a meus pensamentos”. P. 313
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quinta-feira, 21 de maio de 2009
O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha - Miguel de Cervantes (Parte I e II - 1605/1615)
Sempre tive certa relutância com esses “super-clássicos”. Seja porque alguns não me disseram nada ou pela linguagem superultramegarebuscada de outros, enfim. Sem falar naqueles em que, de um parágrafo, dez palavras têm de ser pesquisadas no dicionário. Claro que nada disso impede a leitura, mas convenhamos que seja preciso estar inspirado para resolver pegar o livro. Ler no metrô? Absolutamente impossível. Peguei o Quixote porque, além de ser um clássico, muitos professores de História já haviam falado dele. Então resolvi me aventurar. Para minha surpresa foram novecentas e tantas páginas muito agradáveis de ler, além de ter substancialmente enriquecido meu vocabulário e, claro, meu referencial dos séculos XVI e XVII. Realmente RI em muitas passagens, é difícil fazer isso com livros. De repente, você se pega rindo indefinidamente de algo no livro, e é uma sensação muito particular. Recomendo esta edição que li porque reúne as duas partes e também porque possui belíssimas gravuras do grande artista Gustave Doré que realmente incitam a imaginação. A edição também possui um prefácio dedicado a história do autor Miguel de Cervantes, que teve uma vida bastante tempestuosa e irônica. Então, para quem quiser se aventurar, lá vai meu incentivo.
Referência Bibliográfica:
CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. O engenhoso fidalgo D. Quixote de
Aqui vão algumas passagens selecionadas:
“[...] e pior fora ainda o perigo de se fazer poeta, que, segundo dizem, é enfermidade incurável e pegadiça”. p. 107
“[...] coisa mal feita e piormente pensada, por deverem ser os historiadores muito pontuais, verdadeiros, e nada apaixonados, sem que nem interesse, nem temor, nem ódio, nem afeição, os desviem do caminho direito da verdade, que é a filha legítima de quem historia, êmula do tempo, depósito dos feitos, testemunha do passado, exemplo e conselho do presente, e ensino do futuro”. p. 126
“Não eram seus adornos, como os que ao presente se usam, exagerados, com a púrpura de Tiro, e com a por tantos modos martirizada seda; eram folhagens de verde bardana e hera entretecida; com o que talvez andavam tão garridas e enfeitadas como agora andam as nossas damas de corte com as raras e peregrinas invenções que a indústria ociosa lhes tem ensinado. Então expressavam-se os conceitos amorosos da alma simples, tão singelamente como ela os dava, sem se procurarem artificiosos rodeios de fraseado para os encarecer. Com a verdade e lhaneza não se tinha ainda misturado a fraude, o engano, e a malícia. A justiça continha-se nos seus limites próprios, sem que ousassem turbá-la nem ofendê-la o favor e interesse, que tanto hoje a enxovalham, perturbam e perseguem. Ainda se não tinha metido em cabeça a juiz o julgar por arbítrio, porque ainda não havia nem julgadores, nem pessoas para serem julgadas”. p. 136
"A tua falsa promessa, e aminha certa desventura me levam a sítios donde antes chegarão aos teus ouvidos novas da minha morte, do que as razões das minhas queixas. Deixaste-me, ó ingrata, por quem tem mais; porém não vale mais do que eu; mas, se a virtude fôra riqueza que se estimasse, não invejara eu ditas alheias, nem chorara desditas próprias. O que levantou a tua formosura hão-no derribado as tuas obras. Por ela entendi que eras anjo, e por elas reconheço que és mulher. Fica-te em paz, causadora da minha guerra, e o céu permita que os enganos do teu esposo te fiquem sempre encobertos, para que tu não fiques para sempre arrependida do que fizeste, e eu não tome vingança do que não desejo". p. 232
"A pena é ainda mais livre que a fala para bem expressar mistérios do coração". p. 241
"Sucedeu o que é de costume; nos moços o amor quase nunca o é; é sim um apetite, que, por se não endereçar senão ao deleite, apenas o obtém, logo diminiu e acaba. São estes uns limites postos pela própria natureza aos falsos amores; os verdadeiros seguem outra regra; estes duram sempre". p. 242
"[...] a virtude mais é perseguida pelos maus, do que amada pelos bons". p. 464
"Se as minhas feridas não resplandecem aos olhos de quem as mira, são estimadas, pelo menos, por aqueles que sabem onde se ganharam". p. 518
"— Senhor, as tristezas não se fizeram para os brutos, e sim para os homens; mas se os homens sentem demasiadamente, embrutecem". p. 582
"[...] e ainda que a da poesia é menos útil do que deleitosa, não é das que desonram os que a possuem. A poesia, no meu entender, senhor fidalgo, é como uma donzela meiga, juvenil e formosíssima, que se desvelam em enriquecer, polir e adornar outras muitas donzelas, que são todas as outras ciências, e todas com ela se hão-de autorizar; mas esta donzela não quer ser manuseada, nem arrastada pelas ruas, nem publicada nas esquinas das praças, nem pelos desvãos dos palácios. É feita por uma alquimia de tamanha virtude, que quem souber tratá-la pode mudá-la em ouro puríssimo". p. 616
"[...] o vinho em excesso, nem guarda segredos, nem cumpre promessas". p. 790
"[...] pelas obras se revela a vontade de quem as pratica". p. 922
"As esperanças duvidosas devem fazer os homens atrevidos, mas não temerários". p. 931