tag:blogger.com,1999:blog-89807978693854129652024-03-05T23:20:59.475-08:00Papéis AvulsosAntes de morrer devo ainda encontrar uma possibilidade de expressar o essencial que existe dentro de mim e que nunca ainda exprimi, algo que não é nem amor, nem ódio, nem compaixão, nem desprezo, mas que é o hálito quente da própria vida, vindo de longe, que traz para a vida humana a força imensurável, assustadora, admirável, inexorável das coisas sobre-humanas. Bertrand Russel (Filósofo e Matemático inglês, 1872-1970)K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.comBlogger121125tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-11798767410488557742022-02-28T14:26:00.010-08:002022-04-23T08:55:03.422-07:00Dexter New blood: Um final inesperado, desconfortável e coerente.<p><b><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Obs.: Esse texto contém </span><i style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">spoilers</i><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> e é dedicado, principalmente,
mas não somente, àqueles que já assistiram o final da nona temporada.</span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span></b></p><p><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></p><p><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEikXr-5LcrVil9e8qQJRsAgnxATEFBAt8fkaw_0TwXB-s7k0px0k-EC9fRSEk3kafiaY5En7aIPQMPMKQLmMBcP3wP5sVwEeX1SU0YazRsh4FUb-_LgT2RKuVFFShIsYSEgu5U10zm9-qSvPqvyPRvgOtaIC8u6m2_ZqbA3SMk4bd0wNKVqontIUa-z=s342" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="242" data-original-width="342" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEikXr-5LcrVil9e8qQJRsAgnxATEFBAt8fkaw_0TwXB-s7k0px0k-EC9fRSEk3kafiaY5En7aIPQMPMKQLmMBcP3wP5sVwEeX1SU0YazRsh4FUb-_LgT2RKuVFFShIsYSEgu5U10zm9-qSvPqvyPRvgOtaIC8u6m2_ZqbA3SMk4bd0wNKVqontIUa-z=w320-h226" width="320" /></a></div><i>Enquanto fãs, nós esperamos ansiosamente pelo tema animado e clássico da
abertura de Dexter. Decepcionados, de início nos escapa o porquê da sua ausência.
Com o tempo percebemos que essa temporada tem um timbre muito mais sombrio,
incompatível com o cinismo alegre da abertura original...</i><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> <br /></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ao longo das oito temporadas anteriores, nós assistimos incansavelmente
o <i>serial killer</i> Dexter Morgan se safando de seus crimes das formas mais
inacreditáveis, e às custas de muitas vidas e de personagens chaves da trama do
seriado. Lembremo-nos, pois, do trágico desfecho da oitava e última temporada,
com a morte de sua irmã Debra Morgan. Uma personagem extremamente carismática e
importante na vida de Dexter. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Com certeza, não é à toa que essa lembrança nos é provocada pela
presença dela, já no início de Dexter New Blood. Porém, na nova trama ela
assume o papel de contrapeso psicológico, que até então fora desempenhado pelo
pai dos dois, Harry. Dessa feita, ela é quem está na mente de Dexter o tempo
inteiro contra-argumentado os seus impulsos mais espontâneos de <i>serial killer</i>.
A dinâmica entre Debra e Dexter pode ser entendida simbolicamente como o
conflito permanente entre o sentimento de culpa e a autojustificativa do <i>dark
passenger</i>, e isso é fundamental para entendermos o desfecho da nona temporada. Porque essa última temporada na verdade não é sobre o Dexter, e sim sobre o seu filho, Harrison.</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="text-indent: 35.4pt;">Então, o que vemos é a triste jornada de um adolescente, que depois de
sofrer uma situação dolorosa de abandonos sucessivos, voluntários ou
involuntários, segue em busca de um pai que – ele descobriu - forjou a própria
morte e o abandonou. Tudo se torna ainda mais doloroso se lembrarmos o amor que
Dexter dedica ao Harrison até o final fatídico da temporada oito, quando ele é
levado a forjar a própria morte e desaparecer, deixando Harrison com Hannah,
que anos depois morre de câncer, deixando Harrison para o sistema de adoção,
onde o menino vai sofrer novos traumas e abandonos. O abandono aqui é uma chave
muito importante de leitura.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Harrison e Dexter compartilham um fato importante: <i>ambos nasceram em
sangue</i>. Ambos presenciaram a morte violenta de suas mães. Rita, mãe de
Harrison, sendo uma das mortes na conta de Dexter, como consequência de sua
irresponsabilidade no trato com o <i>serial killer</i> <i>Trinity</i>. Logo, o
trauma de Harrison também pode ser colocado na conta do nosso carismático <i>serial
killer</i>. Portanto, Dexter tem dois fantasmas em relação ao filho: <i>Seria
possível ter passado seu dark passenger geneticamente para o filho?</i> & <i>Presenciar
a morte de Rita, ainda que muito jovem, poderia ter feito nascer em Harrison um
dark passenger, como ele acredita que tenha acontecido com ele próprio?<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O que logo percebemos em Harrison é uma raiva mal controlada e mal
direcionada. Um comportamento errático, agressivo e violento, fruto direto de
uma incapacidade de se conectar com o seu pai que, a despeito de todo o
esforço, mantém um abismo de segredos intransponível entre os dois. O
adolescente busca de alguma forma uma justificativa plausível do abandono cruel
que sofrera por parte do pai, ao mesmo tempo em que busca uma conexão de pai e
filho. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Dexter – e nós também enquanto telespectadores – é levado a ler o
comportamento de Harrison como a possível presença de um <i>dark passenger</i>.
O dilema que ele vive então é o de se abrir ou não com o filho. Baseado,
finalmente, na crença de que Harrison é como ele, e na reivindicação da
responsabilidade em passar <i>“o código” </i>ao filho, Dexter resolve revelar a
verdade irrestritamente ao jovem. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Nesse momento nós vemos uma virada tocante na dinâmica entre pai e
filho. Quando o mistério do motivo do abandono é finalmente exposto e
explicado, Harrison tem uma espécie de libertação da raiva. Isso fica muito
claro nas cenas subsequentes à revelação de Dexter ao seu filho,
principalmente, após o assassinato de Kurt, do qual o adolescente participa
como expectador e ouvinte. Até esse momento ainda somos levados a pensar que
Harrison pode ser um psicopata como o pai. Porém, logo somos instados a questionar
essa ideia, pois o personagem dele muda de acordo com a evolução da dinâmica
com seu pai. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A aceitação e o acolhimento, por parte de Harrison, da condição monstruosa
de seu pai, residem muito mais na possibilidade de conexão do que na
identificação com este. O caminho que ele encontra para chegar até o pai não é
a partir de um <i>dark passenger </i>compartilhado, mas sim pelo pai real que ele
finalmente vê revelado diante de si. Toda a raiva dá lugar a um menino
carinhoso e atencioso. Portanto, a fonte da raiva de Harrison não era um suposto
<i>dark passenger</i>, que ele teria herdado de Dexter, mas algo muito mais
óbvio, o abandono incompreendido que sofrera pelo pai.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A frase final de Harrison para seu pai é por demais dolorosa, e traz à
tona aquilo que penso ser a essência do <i>New Blood</i>, a expiação e a desconstrução
de Dexter como um suposto anti-herói:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">- <b><i>Eu não tenho raiva porque sou como você, eu tenho raiva <u>por
causa</u> de você.<o:p></o:p></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Um final bastante doloroso, e
inesperado, pois talvez esperássemos que pai e filho, se reconectando e sendo
iguais, matassem juntos e felizes para sempre, combatendo criminosos por meio do
<i>“código”</i>, algo deveras cínico, e que nos leva para uma outra reflexão
desconfortável que o seriado propõe, pois aponta de forma afiada o dedo para o
telespectador questionando finalmente sua torcida irrefletida pelo mal. Buscamos
argumentos, assim como Dexter luta e sofre por buscar durante as nove temporadas inteiras, de que o quê ele faz é certo e um bem para a sociedade. <i>“Ele
limpa o lixo e torna o mundo um lugar melhor”</i>. Afinal, <i>“Quantas vidas ele
salvou tirando a vida das suas vítimas?”</i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mas, no fim de contas, o que o
desfecho do seriado nos faz lembrar de forma pungente é que Dexter é um psicopata
frio e perigoso, com apenas uma leve sombra de humanidade naquilo que se refere
ao seu filho, a única forma de amor que reconhece ter sentido, como ele mesmo
fala em suas últimas palavras. Em que pese essa sombra de amor ao filho, todas
as suas escolhas levaram inexoravelmente ao sofrimento incalculável não só deste,
como de todos em torno de Dexter, palavras do próprio filho nos momentos
dramáticos finais.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Harrison matar seu pai é
simbólico em grande medida, mas também é um ato de misericórdia, e porque não
dizer também de <b><i>libertação</i></b>, já que é exatamente esse o sentimento
que a fantástica atuação final de Michael C. Hall nos inspira. Um sentimento de
libertação final e de alívio. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
jovem finalmente compreende a atitude do pai, e percebe que ele esteve certo em
se afastar, em ter fingido a própria morte. Mas também compreende que ele
próprio precisava dessa jornada para entender o porquê do abandono paterno e
superar o sentimento de rejeição, que era a fonte de toda sua raiva. </p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><b><i>A reflexão amarga que nos fica
é: existe alguma justificativa plausível para o mal? O mal causado àquele que é
mau é de alguma forma justificável? E a cadeia de acontecimentos que essa
pretensa justiça engendra em si não pode causar ainda mais mal no mundo?<o:p></o:p></i></b></p>K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-73686610013913286782021-04-21T06:20:00.004-07:002021-04-21T06:20:50.231-07:00A bíblia em Carl Sagan<p><i>“Sempre que lemos as histórias obscenas, as orgias voluptosas, as execuções cruéis e torturantes, o espírito inexorável de vingança que impregnam mais da metade da Bíblia, seria mais coerente dizer que ela é a palavra de um demônio do que a palavra de Deus. Ela [...] tem servido para corromper e brutalizar a humanidade”. [Thomas Paine]</i></p><p>[...] Que área do empreendimento humano não é moralmente ambígua? Até as instituições populares que pretendem nos dar conselhos sobre comportamento e ética parecem carregadas de contradições. Considerem-se os aforismos. A pressa é inimiga da perfeição; mas um passo dado a tempo vale por nove. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando; mas quem não arrisca, não petisca. Onde há fumaça, há fogo; mas o hábito não faz o monge. Um centavo poupado é um centavo ganho; mas não se pode levá-lo para o túmulo. Quem hesita está perdido; mas os tolos entram correndo onde até os anjos têm medo de pisar. Duas cabeças pensam melhor do que uma; mas comida em que muitos mexem, se não sai crua ou queimada, sai insossa ou salgada. Houve época em que as pessoas planejavam ou justificavam suas ações baseando-se nesses lugares-comuns contraditórios. Qual é a responsabilidade moral do aforista? Ou do astrólogo solar, do leitor de tarô, do profeta dos tablóides?</p><p>[...] considerem-se as principais religiões oficiais. Em Miquéias, recebemos ordens de agir com justiça e amar a misericórdia; no Êxodo, somos proibidos de cometer homicídio; no Levítico, a ordem é amar o nosso próximo como a nós mesmos; e, nos Evangelhos, somos instados a amar os nossos inimigos; Entretanto, pensem nos rios de sangue derramado pelos seguidores ardorosos dos livros em que se encontram incrustadas essas exortações de boa intenção. Em José e na segunda metade de Números, celebra-se o assassinato em massa de homens, mulheres, crianças e animais domésticos em inúmeras cidades por toda a terra de Canaã. Jericó é arrasada num kherem, uma “guerra santa”. A única justificativa oferecida para essa matança é a afirmação dos homicidas de que, em troca da circuncisão de seus filhos e da adoção de um conjunto particular de rituais, os seus ancestrais teriam recebido há muito tempo a promessa de que a terra era sua. Não se consegue tirar da Sagrada Escritura nem um vestígio de sentimento de culpa, nem um resmungo de inquietação patriarcal ou divina com essas campanhas de extermínio. Em vez disso, José “destruiu tudo o que respirava, como o Senhor Deus de Israel havia ordenado” (José, 10:40). E esses acontecimentos não são incidentais, mas centrais para o principal moto narrativo do Velho Testamento. Histórias semelhantes de assassinatos em massa (e, no caso dos amalecitas, genocídio) podem ser encontrados nos livros de Saul, Ester, e em outros lugares da Bíblia, sem que apareça nenhuma angústia de dúvida moral. Tudo isso certamente perturbou os teólogos liberais de eras posteriores. [...] Diz-se adequadamente que o diabo pode “citar a Escritura para seus fins”. A Bíblia está cheia de tantas histórias de moral contraditória que toda geração encontra nela justificativa para quase todas as ações que propõe – de incesto, escravidão e homicídio em massa ao amor mais refinado, coragem e abnegação. E essa desordem moral de múltipla personalidade não se restringe ao judaísmo e ao cristianismo. Pode-se encontrá-la profundamente entranhada no Islã, na tradição hindu, de fato em quase todas as religiões do mundo. Talvez não sejam os cientistas, mas as pessoas que são moralmente ambíguas.</p><p><br /></p><p></p><div dir="auto"></div><p></p><div dir="auto"><i>O mundo assombrado pelos demônios. Carl Sagan, 1996.</i><br /></div>K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-15628643148660844712021-01-23T04:13:00.005-08:002021-01-23T04:36:53.815-08:00Antropologia I<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: trebuchet;">Há em mim uma batalha permanente e oscilante entre um instinto de autopreservação e um impulso autodestrutivo.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">A vida é autodestrutiva, porque da destruição vem a renovação da vida, e dessa renovação vem a eternidade da força da vida. A vida que transcende o indivíduo, o cosmos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">Me pergunto se o instinto e o impulso estão conectados de alguma forma com o mistério do cosmos. Ou serão frutos da dimensão do indivíduo em sociedade? Ou uma mistura híbrida dos dois? Afinal... a civilização também é filha do cosmos... </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: trebuchet;">O impulso autodestrutivo acelera o processo inevitável da destruição. Será um manifestação inconsciente de autopunição? Ainda que muitos atos autodestrutivos estejam a princípio na categoria de prazeres e deleites, como o consumo de álcool, cigarros e drogas, eles são, em última análise, atos autodestrutivos.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">Será que é uma troca consciente? Estou destruindo um pouco de mim em troca de um prazer, e é isso, nada mais justo? Será simples assim? A vida me consome, por isso vou consumi-la também?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: trebuchet;">Seremos nós totalmente reduzíveis à antropologia?</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">...</span></p>K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-44123102463687041562020-11-19T02:28:00.006-08:002020-11-19T02:50:00.291-08:00Narcisismo social<p>Às vezes - quase sempre nos últimos tempos deste país, e deste mundo - bate um desalento ao ver tanto ódio. Tantas neuroses mal resolvidas virando política de estado. A imensa deficiência na habilidade de interpretação de texto é exatamente proporcional ao ódio que se quer destilar, colocar para fora, no mundo. Quase num ímpeto inconsciente de vingança e rancor por uma frustração que não se quer assumir, e que serve de combustível para um sentimento de cólera errante, não identificado, camuflado como uma aberrante postura ideológica. </p><p>Ou talvez o ódio cegue, como o clichê fala. Mais do que isso, talvez esse sentimento potente de raiva não apenas cegue, mas distorça, deforme, desfigure, sufoque o sentido real daquilo que o raivoso quer atacar. A distorção alimenta o ciclo de raiva e ressentimento. </p><p>O ressentido vê tudo através de um filtro rancoroso. Rancor que nasce da inabilidade de olhar para si mesmo e de refletir sobre si mesmo, e que projeta no mundo a sua incapacidade de lidar com o abismo dentro de si, com as contradições humanas, com os infinitos graus de cinza da realidade. Pretende uma visão reducionista da vida, negando a sua complexidade. Arrogantemente, acredita que a sua perspectiva limitada é a única chave de leitura possível do mundo. Aplica seus padrões viciados e limitados para julgar o intrincado e indissolúvel tecido da vida. </p><p>O analfabetismo emocional talvez seja o pior dos nossos males. Contamina tudo, deturpa, corrompe. Atribui as cores que eu quero à tudo que me cerca. Mas isso por si mesmo é natural. Vermos o mundo através dos nossos filtros. O analfabetismo mesmo, começa quando brigo e imponho que o meu filtro é o único filtro, menosprezando e desconsiderando cinicamente a pluralidade de perspectivas, negando a riqueza da vida.</p><p>O analfabetismo começa quando me fecho no meu mundo de interesse individual e não vejo os outros. Quando o bem comum se transmuta no meu bem pessoal apenas. Quando não pratico a empatia. Quando eu não consigo entender que o mundo é mais do que posso ver. </p><p>"O mundo é mais do que conhecemos..."</p><p><br /></p>K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-69666960550985237412020-10-21T04:36:00.001-07:002020-10-21T04:54:08.015-07:00. terror .<p> </p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 18.6667px;"><span style="font-family: inherit;">Não há prazer como o terror. Se fosse possível sentar-se sem ser visto entre duas pessoas em qualquer trem, sala de espera ou escritório, a conversa ouvida rondaria uma e outra vez sobre este tema. Poderia parecer que se tratava de um assunto completamente distinto: a situação do país, um bate-papo despreocupado sobre as mortes na estrada, o aumento dos preços dos dentistas, mas pondo a nu a metáfora, a insinuação, ali, encerrada no coração do discurso, encontra-se o terror. Enquanto aceitamos sem discussão a natureza de Deus e a possibilidade de vida eterna, ruminamos alegremente as minúcias da miséria. A síndrome não tem limite, tanto nos banheiros como nas salas de aula, se repete o mesmo ritual. Com a inexorabilidade de uma língua que se retorce para explorar um dente dolorido, voltamos uma, duas ou mil vezes a nossos medos, nos sentando para discutir sobre eles com a impaciência de um homem faminto ante um prato cheio e fumegante.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span><span style="font-size: 18.6667px;">Não há prazer como o terror. Enquanto ele for de outros.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 18.6667px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 18.6667px;"><span style="font-family: inherit;"><i>Clive Barker, Livros de Sangue 1, 1984.</i></span></span></p>K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-35460770426769972352020-02-02T09:26:00.000-08:002020-02-02T09:35:03.966-08:00O Irlandês (2019)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDh2uRufTg789rPN6QYN7TgtGUOwjDXfYUxp9tr-4BKPf5yq2XHwpyQ7CANRV6xtyTNbIcxLoaBfdwGRt_qzydkI7tlBi5K4iNEpWoJIZhNwMhuFCyvTijClVF0wkegZNGwVCK2rpm-pI/s1600/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDh2uRufTg789rPN6QYN7TgtGUOwjDXfYUxp9tr-4BKPf5yq2XHwpyQ7CANRV6xtyTNbIcxLoaBfdwGRt_qzydkI7tlBi5K4iNEpWoJIZhNwMhuFCyvTijClVF0wkegZNGwVCK2rpm-pI/s320/maxresdefault.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Desculpem-me, mas já adianto que esse texto não vai lamber as bolas do Scorsese. Ouvi tanto sobre esse filme, todos passando pano, que já estava me sentindo culpada por não ter assistido. Até que enfim resolvi começar a empreitada de 3 horas e 29 minutos. Não consegui ver tudo num talagaço só, demorei três dias pra concluir essa dose cavalar de testosterona na veia. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Houve uma época em que eu gostava desse tipo de filme. Vi muitos deles, que praticamente não diferem em nada entre si - inclusive nem os atores! - Era uma vez na América (1984), Cassino (1995), Scarface (1983), Fogo Contra Fogo (1995), Os Bons Companheiros (1990), Os Infiltrados (2006), Desafio no Bronx (1993), a trilogia de O Poderoso Chefão (72,74 e 90), com certeza muitos mais que não me recordo agora, e muitos mais que não cheguei a ver. Alguns biográficos, outros baseados em fatos reais. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Como eu disse, houve um tempo em que olhei muito e gostava desses filmes. Continuo reconhecendo suas qualidades de roteiro, atuações impecáveis, fotografia, reconstituição histórica, etc. São bons filmes. Inclusive O irlandês. As atuações do Pacino, do De Niro e do Pesci estão demais, mesmo com o auxílio de toda a maquiagem para as transições de idade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Contudo, alguma coisa dentro de mim já não tem mais paciência, e acha incrivelmente previsível essas tramas: Crime organizado, corrupção política, traições, grandes esquemas de lavagem de dinheiro e, claro, muita violência. Eu sei que em grande medida eles refletem aspectos da realidade, e isso é o que mais me incomoda: grande parte dos problemas do mundo está intimamente ligado à essa lógica masculina de comportamento. No fim, tudo se resume a conflitos criminosos e extremamente narcisistas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Hoje em dia tenho uma sensibilidade muito diferente para filmes, e acho esses filmes carregados de testosterona desconfortáveis, rasos e maçantes. Por mais que ao final a moral seja sempre "o crime não compensa", há algo extremamente apelativo na forma como a violência é mostrada, as armas, os tiros, os assassinatos e o poder que deles emana. Não venham me dizer que no final não ficaram com pena do Frank. Não venham me dizer que não romantizaram a figura de um assassino frio, como sendo um cara fodão. A estética do crime e da violência tem um apelo muito forte dentro de nós. Na maior parte do tempo a história nos inspira simpatia pelo Frank, glamouriza o universo do crime, e é isso que me causa extremo desconforto e reflexão. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Nunca os atributos "filme masculino" ou "filme carregado de testosterona" fez tanto sentido, afinal, notaram que praticamente não há falas das personagens femininas? Mesmo a personagem da Anna Paquin, que é quem traz o elemento de crítica do filme, praticamente não abre a boca. E o que quero dizer com isso não é que o filme deveria ou não ter mais voz feminina, mas justamente fazer perceber o quão masculino é esse universo.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Esse tipo de filme não é mérito do Scorsese. Ele fez muitos filmes bons que fogem dessa trama. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se você queria assistir O Irlandês, assista, é um bom filme. Mas quiçá meu texto faça com que você perceba essas nuances e reflita sobre a perspectiva que expus aqui. Se isso acontecer já me dou por satisfeita.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-56780384028131313532019-05-26T11:16:00.000-07:002019-05-27T02:56:12.093-07:00Notas sobre o casamento, ou sobre o fim de um. <br />
<div style="text-align: justify;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixLTG9A-Ne86tV5jLwsNvvA25XwMfmcCWrzRp_stEQLx4Rxoxk48XkEGDZlpAOzL6pZyCI6jFVAXjgIZUncvAaaobQv4kZVyRkYMvSBaLEgGrCFC-xfsZLK69SUXJvXA_A_P3mfPq_DX8/s1600/separac%25CC%25A7a%25CC%2583o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixLTG9A-Ne86tV5jLwsNvvA25XwMfmcCWrzRp_stEQLx4Rxoxk48XkEGDZlpAOzL6pZyCI6jFVAXjgIZUncvAaaobQv4kZVyRkYMvSBaLEgGrCFC-xfsZLK69SUXJvXA_A_P3mfPq_DX8/s400/separac%25CC%25A7a%25CC%2583o.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de quase 9 anos num relacionamento, recentemente passei - ainda estou passando? - pelo processo dolorido de uma separação. Ainda mais porque com um filho de 5 anos envolvido. Não vou mentir dizendo que foi, ou que está sendo, fácil, mas aos poucos as coisas vão se ajeitando e vamos nos adaptando à uma nova circunstância. </div>
<div style="text-align: justify;">
Para o bem e para o mal, uma separação, depois de um relacionamento de tantos anos, nos arranca daquela poltroninha quentinha e aconchegante da famosa zona de conforto e nos posiciona milimetricamente em frente a um espelho existencial. Cara a cara consigo mesma, muitas vezes o abismo que surge parece quase intransponível. Você está tão acostumada a se ver dentro daquela composição, daquele todo, que quando de repente se vê fora se sente um pouco perdida. Todas as supostas verdades foram sendo desmembradas, não resistiram ao escrutínio da realidade dos anos. Você atravessou o túnel do casamento e saiu do outro lado. A perspectiva agora é totalmente diferente, seja no tocante à relacionamentos amorosos, ou sobre o próprio casamento. As belas ilusões se desvaneceram, e eu não quero que isso soe melodramático, mas é mais ou menos por aí. </div>
<div style="text-align: justify;">
Combinação de alívio e angústia, uma separação é, sobretudo, um momento de autorreflexão e uma nova jornada de autoconhecimento. E, além de lidar com esse diálogo interno constante, cheio de medos e inseguranças, você ainda tem que lidar com o diálogo com o mundo externo, a sociedade, os parentes, os amigos, que sempre querem o seu melhor, claro, mas que de vez em quando conseguem colocar aquela pulguinha atrás da sua orelha que traz tantas e tantas dúvidas que você já julgava sanadas e resolvidas. Volte duas casas e reflita mais um pouco. </div>
<div style="text-align: justify;">
E, como numa montanha russa, você vai oscilar entre momentos de absoluto bem estar e de desânimo profundo. Entre momentos de esperança e momentos de ceticismo. Entre momentos de certezas e momentos de dúvidas. Você vai olhar para o seu filho e vai chorar se perguntado se está fazendo as coisas da melhor forma. Você vai se sentir sozinha naquele domingo a noite e vai se sentir carente. Vai fazer coisas estúpidas e que não correspondem a quem você é e ao que acredita. Mas, você também já não está tão certa sobre quem é e sobre o que acredita. Terão dias em que você vai deitar a cabeça no travesseiro e vai dormir instantânea e profundamente, e também haverão dias em que você vai rolar na cama por horas a fio em ansiedade. Vai olhar para o chão do banheiro de forma catatônica pensando em coisas que foram, que poderiam ser e que não serão. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas você também vai receber amigos e vai rir muito, se divertir muito. Vai sair e conhecer pessoas novas. Quem sabe sentir aquelas borboletas no estômago novamente e que você achava que nunca mais fosse sentir. Vai ter novas expectativas pro futuro e para os finais de semana. Vai descobrir novos sorrisos seus, novas vontades, vai se permitir e redescobrir as formas do sentir. Vai olhar o mundo com o filtro da maturidade que, se não é um filtro assim tão cor de rosa, tem a vantagem de ser mais honesto e menos ilusório. </div>
<div style="text-align: justify;">
E afinal de contas, não é exatamente sobre isso que trata-se a vida, de enfrentar a passagem do tempo de frente, com coragem e também com medo? Com sorrisos e também com lágrimas? A vida é sobre ciclos, sobre aprender e, principalmente, sobre sofrer, que é de onde tiramos nossas melhores lições. Todo significado da vida é extraído da dinâmica entre sofrer e ser feliz, entre fazer sofrer e fazer feliz. Todo o resto não passa de presunções não confirmadas...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, eu acredito muito na sincronicidade da vida. Logo que me separei, me caiu nas mãos, totalmente por acaso, o livro <b>Coisas da Vida</b>, da escritora gaúcha <b>Martha Medeiros</b>. Que grata surpresa essa leitura me foi. Aquietou muitas ansiedades minhas e deu pílulas de nanicolina para muitos monstros que me assombravam. Como ela mesma disse em uma de suas crônicas <i>"O tempo ajustou minhas retinas e deu proporção às minhas ilusões. O tempo altera o tamanho das coisas."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Esse texto nasceu sobretudo da reflexão sobre muitas das passagens desta obra, principalmente sobre aquelas que tratavam de forma leve e descontraída de questões densas e profundas sobre o casamento e relacionamentos, sobre maternidade e feminilidade. Selecionei alguns trechos que vem ao encontro da minha reflexão e que me marcaram para compartilhar, seguem:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
"Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa, há grande chance de ela conhecer bem você, já não é preciso ficar explicando a todo instante suas contradições, motivos, desejos. Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si. Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso? Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pátria do outro. Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções. Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso se chama trégua."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Quantas vezes fazemos exatamente isso: em vez de assumir que estamos cansados, frustrados, derrubados por uma desilusão, optamos por fingir que está tudo na mais perfeita ordem e, para não passar pelo estresse de romper um casamento/pedir demissão/trocar de cidade/ou o que for, a gente simplifica: se divorcia do que está sentindo - ou seja, de nós mesmos. E botamos um farsante pra existir no nosso lugar. Romper - o que quer que seja - não é fácil. E tampouco é um ato solitário. Ao se divorciar de sua mulher ou marido, você inevitavelmente envolverá os sentimentos dos seus filhos e de seus familiares, pra citar apenas os mais chegados. Sua decisão vai interferir na rotina dos outros. Fará com que eles sofram junto com você. Assim é: todos os laços que desejamos cortar repercutem nas pessoas que amamos, o que torna tudo mais difícil."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"No livro Monogamia, do psicanalista Adam Philips, há um trecho em que ele diz que o esconderijo mais aconchegante é aquele em que conseguimos esquecer do que estamos nos escondendo. Mais: é aquele em que até esquecemos que estamos escondidos. E conclui: "Formamos casais porque é impossível se esconder sozinho". O casamento como esconderijo. Eu nunca havia pensado nisso. Uma pessoa avulsa é uma pessoa com sua solidão escancarada, é uma pessoa que necessita fazer contatos e explicar quem é, o que faz, do que gosta. Uma pessoa sozinha é visada, está exposta, julgam que ela tem mais tempo, está mais disponível, uma pessoa sozinha não tem onde se esconder. Já duas pessoas juntas escondem-se das fantasias e do julgamento alheio, se escondem de sua própria vulnerabilidade e dos seus próprios segredos, duas pessoas juntas protegem-se oficialmente, mesmo sem ter a consciência de que sua união também é isso, um esconderijo."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"A sociedade costuma cobrar relações amorosas daqueles que escolheram viver sozinhos, ou que estão sozinhos por contingência do destino. Os solitários, os ermitãos, os donos da própria vida são tratados como se estivessem à margem, mas são os casados os verdadeiros excluídos, porque uma vez cumpridores de uma expectativa social, perdem seu potencial para surpreender, não chamam mais a atenção, passam a ser apenas fazedores de filhos e de dívidas, consumidores de imóveis de três dormitórios e carros utilitários, viram alvo apenas das corretoras de seguro e dos agentes de viagem. Dentro de um casamento, julga-se que há duas pessoas realizadas, completamente a salvo da angústia existencial, da carência afetiva, dos traumas de infância, da insanidade, do vício e dos ímpetos - imagine, ímpetos: casais jamais ousariam fazer algo sem pensar, sem conversar muitas vezes antes, durante e depois do jantar. A solidão, que sempre pareceu nos proteger, na verdade nos coloca no centro das atenções, permite que coloquem o dedo nas nossas feridas. Já o casamento nos tira da prateleira, nos resguarda, nos esconde tão bem e tão sem alarde que a gente nem percebe que está escondido. Que ironia: o casamento é que é underground." </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"...o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade - nada foi feito pra durar."<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
...<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5F1EHetyeSGTPYXK9pwPqwoVVdq3W8lFAamhhLa8nL-pg0T7wSN62CcJn0d2BRFhlJQjnxzvXRmNY2DcvPhuUoUOkY-8dQACRPwkXvMFP0TbTZCBvzxlSrOj48F-qaWU7LZ9a8haOKDc/s1600/mostra-Banksy-milano-mudec-2018.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1080" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5F1EHetyeSGTPYXK9pwPqwoVVdq3W8lFAamhhLa8nL-pg0T7wSN62CcJn0d2BRFhlJQjnxzvXRmNY2DcvPhuUoUOkY-8dQACRPwkXvMFP0TbTZCBvzxlSrOj48F-qaWU7LZ9a8haOKDc/s400/mostra-Banksy-milano-mudec-2018.jpeg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
...</div>
</div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-44993103415819594972019-04-12T08:50:00.000-07:002019-05-27T08:32:50.289-07:00"Envergonhado, o Diabo parou e sentiu que a bondade era terrível..." <div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcg1yMS60iwxBU0nsIfu0dDBV7rorg04nutVWXudTWfY5uk2p0FsAYI92OTwJggSWa1pm_Mw2t8wRZT-dEbqB5cUL0u0fsDhJG_o3rKzeW3bOIg6eg0dsdy4IVej_2C1Whr84TWWR5iEQ/s1600/The-House-That-Jack-Built3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img alt="" border="0" data-original-height="935" data-original-width="1600" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcg1yMS60iwxBU0nsIfu0dDBV7rorg04nutVWXudTWfY5uk2p0FsAYI92OTwJggSWa1pm_Mw2t8wRZT-dEbqB5cUL0u0fsDhJG_o3rKzeW3bOIg6eg0dsdy4IVej_2C1Whr84TWWR5iEQ/s400/The-House-That-Jack-Built3.jpg" title="" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">Sempre
fui uma fã inveterada do gênero "Terror/Horror/Thriller", tanto no
cinema quanto na literatura. Meu interesse esteve sempre ligado às tramas
psicológicas ou fantásticas, à exposição e autópsia dos terrores e
possibilidades do subconsciente humano. Nunca gostei de violência gratuita e de
festivais sanguinolentos, com toda sinceridade, me sinto
entediada com esse tipo de terror. O conteúdo dramático do mundo da fantasia e
do terror sempre me fascinou muito mais do que a estética da violência em si.
Evidente que também me sinto atraída por alguns elementos estéticos do universo
do terror, mas, via de regra, é pelos elementos menos óbvios e mais alegóricos
e simbólicos. </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Em alguns momentos dos últimos anos, e falo aqui do <i><a href="https://www.google.com/search?q=mainstream&oq=mainstream&aqs=chrome..69i57j0l5.511j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8" target="_blank">mainstream</a>, </i>vimos uma escalada nervosa do gênero
no sentido de intensificar e, consequentemente, banalizar a violência. Cenas ou
tramas que chocavam há 30 anos atrás, hoje já não chocam tanto. Os padrões da
arte cinematográfica, e mesmo literária, sempre refletem em boa medida o
contexto sociocultural em que são produzidos. Por isso, é indiscutível que
essa escalada se relaciona com o aumento de nossa tolerância para com a
violência, principalmente devido à exposição constante a ela. O avanço nos
recursos tecnológicos também favoreceu muito a exploração da estética da
violência em prejuízo do conteúdo dramático. Temos uma quantidade absurda de
filmes que são, em última análise, um pretexto para um amontoado de cenas
grotescas de violência com sinopses que não encheriam duas linhas. Isso
acontece também nos filmes de ação. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Contudo, também vemos um movimento do gênero em retorno a um
terror psicológico. Exemplos disso são os recentes <a href="https://www.imdb.com/title/tt6644200/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1" target="_blank">Quiet Place (2018) </a> e o controverso <a href="https://www.imdb.com/title/tt2737304/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1" target="_blank">Bird Box (2018)</a>, onde o terror exige um pouco mais da nossa
imaginação. A tensão psicológica é a tônica constante nos dois casos, e uma das
principais críticas, principalmente à Bird Box, é a de não trazer a explicação
sobre as criaturas, nem mostrá-las. Porventura, as pessoas fiquem realmente
apavoradas quando confrontadas com sua falta de imaginação. Precisam de tudo
explicadinho, nos mínimos detalhes. Quando, onde e porquê. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8jb9Rhx_EQxScZ2tAsC7thTbJoMuD1URbc5TyCg8oSS_sw-UtH0xRm6LfvCv2n4lQPTOa6Gvrt6T3UMK9VjWGIXZ0tVFp4szcMTogAinGjAtDE6FG_7KnoWg9tZqygxgyWjOLvCwOn_8/s1600/Bird-Box-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8jb9Rhx_EQxScZ2tAsC7thTbJoMuD1URbc5TyCg8oSS_sw-UtH0xRm6LfvCv2n4lQPTOa6Gvrt6T3UMK9VjWGIXZ0tVFp4szcMTogAinGjAtDE6FG_7KnoWg9tZqygxgyWjOLvCwOn_8/s400/Bird-Box-2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0QOBq4dRNJwb0YYLAb76SwQ28QwEMvRZW7icAOJvlM7QLlY6pb5Gj2x9C-J-lVsjmhyphenhyphencVIccW9lo689euirsJTuyTtFOodVuqqy72KRuGJBpPDkMKPRscqGLGVaNjz5wQASG3Nq_o3jU/s1600/aqp16557r-1050x788.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="788" data-original-width="1050" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0QOBq4dRNJwb0YYLAb76SwQ28QwEMvRZW7icAOJvlM7QLlY6pb5Gj2x9C-J-lVsjmhyphenhyphencVIccW9lo689euirsJTuyTtFOodVuqqy72KRuGJBpPDkMKPRscqGLGVaNjz5wQASG3Nq_o3jU/s400/aqp16557r-1050x788.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">Nessa semana assisti à dois filmes que, de certa forma, se
conectaram na minha cabeça. O sinistro "</span><a href="https://www.imdb.com/title/tt4003440/?ref_=rvi_tt" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;" target="_blank">The
House That Jack Built (2018)</a><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">, escrito e dirigido pelo sempre intenso Lars
von Trier, e o, quiçá último, </span><a href="https://www.imdb.com/title/tt1502407/?ref_=rvi_tt" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;" target="_blank">Halloween
(2018)</a><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">. </span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"> O
Lars von Trier, como de costume, consegue entrelaçar - por meio de uma dinâmica
que resulta numa desconcertante morbidez -, o caráter estético da violência com
uma profundidade existencial crua e perturbadora. </span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"> O
<i>Halloween</i>, sinceramente, não achei de
todo ruim, talvez pouco explorado. Problematizou o trauma da
heroína Laurie Strode de uma maneira sincera, mas um pouco superficial.
Falou, uma vez mais, do impasse psiquiátrico que a figura de Michael Myers
encarna, mas chegou no mesmo denominador comum de sempre, ou seja, nosso
psicopata é <i>pure evil</i> (o mal puro), nada mais, sem escrúpulos
ou padrões, com aquela pitada de obsessão e ideia fixa pela Laurie. Foi uma
espécie de "confronto final". A trama come por várias beiradas, mas
não se aprofunda realmente em nada. Perseguição, carnificina, violência
gratuita, fim. Olhei mais em consideração à histórica franquia e à Jamie
Lee Curtis, mas, convenhamos, não tenho
mais muita paciência nem tempo pra perder com esse tipo de filme que não
acrescenta nada à nossa existência. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7LRS_0ZYlfBzBdtgPJA61kLydgyCf1SoThDbq02rksDNgA2xlGz-21PK5nshQfdTLL1ezYbFF_KLUAwKuXWda4_BLpy8IKQBOEh1jsJw1_gPD8GiUwBYCJRU9i2kLYlplCnPPqicJQ9U/s1600/Halloween-2018-Laurie-Strode-Michael-Myers.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1600" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7LRS_0ZYlfBzBdtgPJA61kLydgyCf1SoThDbq02rksDNgA2xlGz-21PK5nshQfdTLL1ezYbFF_KLUAwKuXWda4_BLpy8IKQBOEh1jsJw1_gPD8GiUwBYCJRU9i2kLYlplCnPPqicJQ9U/s400/Halloween-2018-Laurie-Strode-Michael-Myers.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Minha conexão pessoal entre esses dois filmes, apesar de tão
diferentes, foi a violência explícita à criança. Em <i>Halloween</i>, há
uma cena bastante desnecessária em que <i>Myers </i>esgana um menino
de aproximadamente 10-12 anos. Um pouco mais tarde, quando ele está vagando
pela vizinhança e matando despropositadamente, há uma cena muito tensa em que
ele passa por um berço no qual um bebê chora. Tive a nítida impressão de que ele
iria simplesmente estocar a faca naquele berço, e acho que a intenção da
direção foi exatamente essa. Lembro que eu pensei <i>"será que eles
vão cruzar essa linha?"</i> E acho também que o assassinato anterior,
daquele menino, teve justamente esse propósito de efeito no espectador. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Em <i>The House That Jack Built</i>, foram cruzadas todas as
linhas e a coisa foi bem mais bizarra, apesar de inserida num contexto
dramático melhor construído. O <i>serial killer</i> <i>Jack </i>leva
uma mãe e seus dois filhos (8 e 10 anos, talvez) para um piquenique numa região
de caça. Em fim de contas eles é que se tornam a caça do megalomaníaco que
chama o evento de sua "obra-prima". Não apenas mata os dois meninos,
do alto da sua torre de tiro, como os mata, um de cada vez, na frente da mãe
desesperada. Depois, na sequência desses eventos com um nível de crueldade
poucas vezes atingido no cinema, Jack faz a mãe simular que os filhos estão
vivos, encenando um piquenique grotesco em que ela é obrigada a dar de comer
para o cadáver de um deles. O estômago revira sim. É horrível. Mas piora,
depois Jack ainda vai mutilar o cadáver de um dos meninos para deixá-lo
com um aspecto sorridente. Mas a filmagem do Lars colocou uma luz um pouco
diferente sobre o <i>serial killer</i>, essa
figura, tantas e tantas vezes endeusada e romantizada pelo cinema. Lars
realmente consegue despertar nosso desprezo e nosso ódio por esse cara. Ele não
é um cara fodão, inteligente e sofisticado. Sarcasticamente, o personagem de
Lars se autoproclama Mr. Sophistication, mas não passa de um lunático que
pretende atribuir um significado transcendental ao que não passa de uma perversidade
doentia, e que nasce, sobretudo, de sua profunda incompetência social.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWEdAfNFerJ81lhuvt-T4-YU5NWde68XvEgLGwW7flKXcr_u4KvPf5HyYtjdgREXuWJ96scyZ8G1UEX9ytd0viTvOc0NOsVjCwXDY5Cg8sxlpk7P_EoFSaPccyfGK4HwL93zNAko2FGE/s1600/the-house-that-jack-built-2018-ifc-films-photobyZentropa-ChristianGeisnaes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWEdAfNFerJ81lhuvt-T4-YU5NWde68XvEgLGwW7flKXcr_u4KvPf5HyYtjdgREXuWJ96scyZ8G1UEX9ytd0viTvOc0NOsVjCwXDY5Cg8sxlpk7P_EoFSaPccyfGK4HwL93zNAko2FGE/s400/the-house-that-jack-built-2018-ifc-films-photobyZentropa-ChristianGeisnaes.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Crianças são sempre um assunto sensível, porque toca num lugar
muito delicado da psique humana. Um lugar compassivo e frágil, de amor
incondicional e de autopreservação. Existem exemplos no cinema no sentido
de crianças perversas, o que por si, já é agressivo e desagradável aos nossos
pensamentos. Alguns exemplos disso são o <a href="https://www.imdb.com/title/tt2443822/?ref_=fn_al_tt_3" target="_blank">The
Boy (2015)</a> e o macabro <a href="https://www.imdb.com/title/tt3086442/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1" target="_blank">Ich seh ich seh (2014)</a>. Podemos citar até mesmo <a href="https://www.imdb.com/title/tt0098084/?ref_=nv_sr_2?ref_=nv_sr_2" target="_blank">Pet Sematary (1989)</a> ou o <a href="https://www.imdb.com/title/tt0070047/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1" target="_blank">Exorcista (1973)</a>, pois, por mais que existam elementos
sobrenaturais, também lidam com figuras infantis que despertam em nós um nível
diferente de terror. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Contudo, creio que a violência <b><i>contra </i></b>a criança
está no topo das coisas mais horríveis e inconcebíveis, dentro e fora do
cinema. É uma das coisas mais assustadoras que existem. E é um dos tabus no
cinema, uma linha que poucos cruzam, e não à toa. Suscita dentro de nós um
horror impactante, paralisante, uma repulsa e uma revolta. É uma espécie de
último recurso que funciona como algo do tipo <i>"olha, esse é o nível
de maldade desse assassino".</i>
Na obra de Lars funcionou bastante bem, a despeito do choque que provoca,
também provoca uma percepção mais crua e menos romantizada da figura do
psicopata. <i> </i><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><i><br /></i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpIuM1GxyXAtzuTgvmIKWjlMjei67XAGpnYacjte8GoQK3kpEKq09s7yeCE-ugIHlOHhlnzjS5hpEuOel1NFinELVXTVd6w_FNubDHrhV7uc-zb6w5lGazFQlpfgmTcRzqKB3p0K2omYw/s1600/download.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpIuM1GxyXAtzuTgvmIKWjlMjei67XAGpnYacjte8GoQK3kpEKq09s7yeCE-ugIHlOHhlnzjS5hpEuOel1NFinELVXTVd6w_FNubDHrhV7uc-zb6w5lGazFQlpfgmTcRzqKB3p0K2omYw/s400/download.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><i><br /></i></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Mas talvez à violência contra uma criança no mundo do cinema não
seja o que realmente nos cause choque. Talvez o que realmente mexe com as
nossas entranhas seja a relação entre a arte e a realidade. A arte imita a
vida, reflete ela e sobre ela. Tudo aquilo que está na arte, de alguma forma,
encontra correspondência na realidade e, nesse caso em particular, isso é mais
perturbador do que qualquer outra coisa.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">Stephen King fala que o terror é sobre os medos. Sobre um medo,
acima de todos, o medo da morte. As histórias de terror são ensaios de nossas
próprias mortes. Porém, trazem uma enorme vantagem. Se por um lado, nos lembram
ostensivamente de que somos mortais e de que vamos morrer um dia, por outro, também nos lembram de que estamos vivos e isso nos causa um enorme alívio. E é esse
alívio a substância viciante do terror. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;">"Isso não aconteceu porque os roteiristas e produtores e
diretores desses filmes queriam que acontecesse; aconteceu porque as histórias
de terror ficam mais à vontade naquele ponto de conexão entre o consciente e o
subconsciente, o lugar onde tanto a imagem como a alegoria ocorrem mais
naturalmente e com efeito mais devastador. "</span></i><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"> (Stephen
King, 1977)<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5pD35qMUtME3YHEn1u5K15CFr2onYHw063xACxfQI0GpvTShIVqNAUdo9UUjr5TQNk66wSLMPLue5ykVb5mKYlmcYUVhyFV3DsJ_4Mzf24L4l6s6DdsGUukWcuR0jq22ZSlaFbQAvmzQ/s1600/stephen-kingg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="961" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5pD35qMUtME3YHEn1u5K15CFr2onYHw063xACxfQI0GpvTShIVqNAUdo9UUjr5TQNk66wSLMPLue5ykVb5mKYlmcYUVhyFV3DsJ_4Mzf24L4l6s6DdsGUukWcuR0jq22ZSlaFbQAvmzQ/s400/stephen-kingg.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: red; font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 10.0pt;"></span></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-76774760719136646802018-11-04T12:16:00.000-08:002018-11-04T12:20:18.646-08:00Pearl Jam - Smile<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Aquela música que não é das mais conhecidas, mas é demais! </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Essa canção é a quinta faixa do álbum Code, de 1996.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dwhC-KJh0myKGiDdHjRJ4zhM74YEneCgWNetTjQLtymuApRtT6tLBZFvwdmwlzob69oh0r11da_3W4xEu5Byg' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
...</div>
<br />K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-15191642009410102192018-08-26T04:25:00.001-07:002018-08-26T04:31:33.344-07:00Sonhando com Stephen King<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"> </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"> Eu tenho sorte, ou pelo menos meu subconsciente tem. Quando fazia meu TCC, que era sobre as obras de Machado de Assis, tive um sonho com o Bruxo do Cosme Velho. Estávamos viajando de bonde, na Rio de Janeiro do século XIX. Ele, sentado no banco em frente ao meu, virou-se para conversar comigo. Tivemos uma conversa muito leve e divertida, e ele me deu alguns conselhos sobre meu trabalho, apontando alguns caminhos. Fato é que acordei com aquela sensação agradável ainda muito fresca, e realmente minhas ideias sobre meu trabalho clarearam muito a partir dali.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"> Essa noite foi a vez de sonhar com outro de meus autores favoritos, Stephen King. Eu estava em algum evento literário, mas era uma espécie de concentração, com várias salas. De repente ouvi um rumor de que Stephen King estava passando mal na sua sala, algo como pressão alta talvez, ele não se sentia bem. Fiquei preocupada, pensei "será que ele vai morrer? não pode ser!". Algumas pessoas entravam e saíam da sala dele. Até que alguém disse que ele estava bem. Eu estava numa espécie de recepção onde tinham sofás e outras pessoas transitando, quando de súbito ele apareceu, estava muito informal, e não era um ambiente de fãs, era como se fosse um ambiente de <i>backstage</i>. Ele estava apenas circulando. Então eu me aproximei e disse <i>"I'm a fan, but not a crazy one! i'm just worry about you, are you ok?"</i> Então ele sorriu e tocou minhas bochechas num gesto de carinho, me disse que tinha sido apenas um mal estar mas que já passara. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">E esse foi meu sonho com Stephen King. Novamente acordei com aquela sensação agradável, aquela vontade de voltar pro sonho... Infelizmente não consegui, só me restou mesmo voltar para um de seus livros...</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Escolhi essa foto pra ilustrar porque foi bem essa expressão simples e fofa que ele tinha no meu sonho. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-FiqmCYZCQzLZMNVMpOMaGk4pbaZsK2CCb2d-Zq24VyENL2-eE6e1oAv-PE7YrU-0Lv1zfCuQNbnod5nckhMm5sHu7jLDxQjc_x2Wvvs1_Jpx8YIZv1mLdouDMeWzk3j4pT71GFfFADg/s1600/stephen-king-cover-ftr.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="775" data-original-width="1240" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-FiqmCYZCQzLZMNVMpOMaGk4pbaZsK2CCb2d-Zq24VyENL2-eE6e1oAv-PE7YrU-0Lv1zfCuQNbnod5nckhMm5sHu7jLDxQjc_x2Wvvs1_Jpx8YIZv1mLdouDMeWzk3j4pT71GFfFADg/s640/stephen-king-cover-ftr.jpg" width="640" /></a></span></div>
</div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-17364734328219876732018-05-20T10:07:00.002-07:002018-05-20T10:07:31.313-07:00Excesso de juízes.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjueEqo0X6d6GCcXGOLAgg40bGUST5sv3RNxrfKe8jUSBB1iggFbOQ2uGGVWrjL6VE6GmLiFMZAUWPRaGMBkJ10ick8OTeHbFXcV4wjzfnCWlm_2xn6pX_DoNJ7_0rDRH7yTnXP0GuKKaY/s1600/Trajeto%25CC%2581ria_Rihanna.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="783" data-original-width="1200" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjueEqo0X6d6GCcXGOLAgg40bGUST5sv3RNxrfKe8jUSBB1iggFbOQ2uGGVWrjL6VE6GmLiFMZAUWPRaGMBkJ10ick8OTeHbFXcV4wjzfnCWlm_2xn6pX_DoNJ7_0rDRH7yTnXP0GuKKaY/s400/Trajeto%25CC%2581ria_Rihanna.jpeg" width="400" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Demorei uma jornada para perceber julgamentos muito sutis que eu fazia - como todos nós, inclusive - o tempo todo. E vou dizer, continua sendo um exercício diário e cotidiano pra mim. Quase todo dia me enxergo fazendo algum julgamentozinho, por mínimo que seja, e sinto que todas as vezes minha autopercepção se alarga um pouco mais e me atento pra mudar um pouquinho, também, por mínimo que seja.Todo dia tento enxergar ao avesso tantas e tantas coisas que sempre pareceram tão prontas e definitivas. Coisas que, percebi, estão, sim, prontas, pois foram construídas, mas não são definitivas porque podem e devem ser desconstruídas.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Demorei algum tempo, por exemplo, para perceber que gostar da artista/mulher Rihanna não implica que eu seja uma mulher como ela. Muito menos, implica que eu tenha que ter algum julgamento moral sobre ela que atribua juízo de valor sobre o seu comportamento. Riahnna é uma mulher/artista despudorada - pois não tem pudor - que traz a liberdade sexual feminina como a tônica da sua arte, e a arte é sempre um exagero do sentir, no melhor dos sentidos. Não há nada errado em ser como ela, ou em ser como eu. Somos diferentes, nem melhor, nem pior. Também venho desconstruindo uma visão carola e PUDORástica do sexo, herança de um catolicismo neurótico que demoniza a sexualidade de uma jeito que está mais entranhado em nossa cultura do que podemos sequer imaginar.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Existem matrizes de pensamento e percepção. Mesmo quando pensamos sobre temas diferentes, ou com abordagens diferentes, estamos, via de regra, submetidos à essas matrizes. São essas matrizes que devem ser percebidas, examinadas e alteradas, e isso é muito difícil. Requer exercício mental, reflexão, empatia, humildade, bondade e conhecimento.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Todavia, tudo isso posto, nada disso me impede de problematizar e refletir, a nível pessoal e aberto, sobre o impacto de artistas "sex symbols", para o feminismo. Afinal, quais as consequências e o papel da objetificação sexual de mulheres artistas na cultura contemporânea. E se, por ventura, eu achar que pode haver algum aspecto negativo, isso não implica nenhuma culpabilização pessoal da Riahnna.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Da mesma forma, comecei a entender que minha posição sobre o aborto não implica que eu seja menos feminista ou que eu seja contra a sua descriminalização e, o mais importante, não implica que eu seja contra as mulheres que viveram ou viverão um aborto. Muito em contrário. Meu pensamento reside justamente na cicatriz emocional que, quero crer – talvez com alguma ingenuidade – as mulheres carregam pro resto das suas vidas quando passam por isso. Se é um evento traumático, por que não problematizá-lo, por que não refletir sobre? Isso não implica, de forma alguma, o julgamento de ninguém.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A vida está carente de debates que tenham por objetivo unir. O debate solidário, o debate que promove a empatia e a reflexão sobre a perspectiva do outro. Em todo lado as pessoas estão de digladiando, se odiando, se xingando, ridicularizando umas as outras, e isso é muito triste de se ver.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
É difícil ter esperança por esses dias...</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Fiquem agora com a musa Rihanna</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/49lY0HqqUVc/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/49lY0HqqUVc?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
<div>
<br /></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-55969897443715710572018-03-11T05:39:00.004-07:002018-03-11T05:43:57.412-07:00Dica de filme: Lady Bird: A hora de voar, 2017. Torrent e legenda.<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDpIwECeUd0hy0O3RBDOVBlKt4gy3KVROuyPV3U0G5i4iwrScr_bMxjWLTxvEGlpFD5GX6Z67OvOoeumoFkYDz0gvre3XHLg7s3QdAqzaEJ2NkLKWs-BsQx9MZhplHbMhHZX9SeaSmrp0/s1600/teste-qual-filme-oscar-2018-mais-te-representa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDpIwECeUd0hy0O3RBDOVBlKt4gy3KVROuyPV3U0G5i4iwrScr_bMxjWLTxvEGlpFD5GX6Z67OvOoeumoFkYDz0gvre3XHLg7s3QdAqzaEJ2NkLKWs-BsQx9MZhplHbMhHZX9SeaSmrp0/s400/teste-qual-filme-oscar-2018-mais-te-representa.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> <a href="http://www.imdb.com/title/tt4925292/?ref_=nv_sr_1" target="_blank">Lady Bird</a> (2017) é aquele tipo de filme simples, mas que nos esmaga com a sua essência existencialista e crua. A história acompanha a jornada de uma adolescente nada extraordinária em sua descoberta do real valor da família e das amizades verdadeiras. Nada extraordinária, porque uma das grandes sacadas do filme é essa. Lady Bird é uma adolescente comum, mediana, e isso faz com que nos identifiquemos, afinal de contas, em grande maioria somos todos medianos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> O filme acontece no último ano do ensino médio, antes do tão aguardado ingresso na universidade. As dificuldades financeiras de sua família e seu desempenho escolar regular, fazem com que Lady Bird se veja dividida entre a resignação da universidade comunitária (espécie de faculdade local, que não tem prestígio) e a tentativa de ir pra uma universidade grande de Nova York. Bom, daí em diante não vou dar spoilers, hehe.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Há alguns anos atrás me identificaria sobremaneira com Lady Bird. Nos dias de hoje, uma parte de mim ainda se identifica, mas agora consigo me identificar com os pais e com toda a dinâmica familiar de um ponto de vista mais amplo. O tempo e a maternidade me deram novas perspectivas, e talvez por isso o filme tenha me tocado tanto e de uma maneira tão sensível, assim como tocou tantas pessoas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="https://drive.google.com/open?id=1tqk27ZvyIZmsm7b5Vvn458lfJcoNZJH8" target="_blank">Download torrent e legenda</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/FX_ZHgdyD4s/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/FX_ZHgdyD4s?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-72436483309748889642018-01-28T10:35:00.000-08:002018-01-28T10:36:56.041-08:00Dica de filme: Uma Noite Sobre a Terra (1991) Torrent e legenda<div class="" data-block="true" data-editor="2g2qk" data-offset-key="17jvc-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="17jvc-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="17jvc-0-0"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><b>Dica de filme:</b> <a href="http://www.imdb.com/title/tt0102536/" target="_blank"><i>Uma noite sobre a terra </i>(1991)<i>.</i></a></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="17jvc-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="17jvc-0-0"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Filme de 1991 dirigido por <a href="http://www.imdb.com/name/nm0000464/?ref_=tt_ov_dr" target="_blank">Jim Jarmusch</a> (<i>Sobre Café e Cigarros</i>, 2003; <i>Amantes Eternos</i>, 2013).</span></span><br />
<span style="font-family: verdana, sans-serif;">Cinco histórias, cinco cidades, cinco táxis, cinco taxistas e várias viagens diferentes: Los Angeles, Helsinque, Nova Iorque, Paris e Roma são os palcos para que cinco segmentos distintos formem um verdadeiro mosaico de histórias e situações inesperadas, divertidas, inusitadas e emocionantes.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2g2qk" data-offset-key="4mi6j-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4mi6j-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="4mi6j-0-0"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Fonte do release: <a href="http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2097/">http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2097/</a></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4mi6j-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="4mi6j-0-0"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Fonte da imagem: <a href="http://www.imdb.com/title/tt0102536/">http://www.imdb.com/title/tt0102536/</a></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4mi6j-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="4mi6j-0-0"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4mi6j-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="4mi6j-0-0"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><a href="https://drive.google.com/open?id=12Vljp1GqSCg7J32NSOEW1_RDSTx9V38q" target="_blank">Torrent e legenda em pt</a></span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2g2qk" data-offset-key="er7ne-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
</div>
<br />
<div class="" data-block="true" data-editor="2g2qk" data-offset-key="ft34c-0-0" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: pre-wrap; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTxsfcg9KmvaHGN3b7LvVnsFiBupozQzDnQlHFbOkbrHDS5zgcRp3IF3yzI2U9Znhzzi1bfUinxkrpcTYdX6_de2tJVkjkYNjcNeWqXjzC5ZKXFVXJs312a6Qh1mZS4BbYCItIiLSAD3U/s1600/MV5BYzAyM2I3ZmYtNmNkZC00MGZmLWIyNGYtYzU2ZWFlMGRiNGJlXkEyXkFqcGdeQXVyNjMxODMyODU%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="822" data-original-width="586" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTxsfcg9KmvaHGN3b7LvVnsFiBupozQzDnQlHFbOkbrHDS5zgcRp3IF3yzI2U9Znhzzi1bfUinxkrpcTYdX6_de2tJVkjkYNjcNeWqXjzC5ZKXFVXJs312a6Qh1mZS4BbYCItIiLSAD3U/s1600/MV5BYzAyM2I3ZmYtNmNkZC00MGZmLWIyNGYtYzU2ZWFlMGRiNGJlXkEyXkFqcGdeQXVyNjMxODMyODU%2540._V1_.jpg" /></a></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ft34c-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: left; white-space: pre-wrap;">
<br /></div>
</div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-78793355181918587232018-01-21T05:49:00.002-08:002019-06-01T06:50:10.338-07:00Sobre ser feliz não basta. <div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW-i2eCZ2vtW6wxEMygRxqXih47JG9BQxNM9iG_kx0KkDuNhPQrbbagwLYgKH9UnvliLruh0pHOcqXt0FP2J0xKs5zbA_n7hFhhZjtr8eV7BV7Z5t7PaTzKtmpBWRnOh_rHC53CtJnBM4/s1600/A-desculpa-da-correria.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="280" data-original-width="424" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW-i2eCZ2vtW6wxEMygRxqXih47JG9BQxNM9iG_kx0KkDuNhPQrbbagwLYgKH9UnvliLruh0pHOcqXt0FP2J0xKs5zbA_n7hFhhZjtr8eV7BV7Z5t7PaTzKtmpBWRnOh_rHC53CtJnBM4/s320/A-desculpa-da-correria.jpg" width="320" /></a>A esta altura você já deve ter percebido que ser feliz não basta, não é mesmo? Você está terminantemente proibido de ser feliz por ser feliz! Blasfêmia! Heresia!!Você precisa de títulos e muito agito para isso. Mesmo que com esses títulos e com esse agito sua vida se torne miserável e você não tenha tempo nem para respirar com tranquilidade - no meu caso, asmática, isso alcança um pouco mais de literalidade do que eu gostaria, acreditem! A premissa para ser feliz é: não ser feliz, mas parecer ser feliz através de 'objetivos alcançados'. As redes sociais estão aí para cumprir esse fantástico papel de mostrar aos outros o quão feliz e maravilhoso você e sua vida parecem ser. <i>[Até ter um cachorro ou gato, hoje, faz parte do protocolo para parecer ser feliz!! </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Tantas e tantas vezes que tive momentos maravilhosos de carinho com meu filho, em que pensei em tirar um foto para postar, mas isso arruinaria o momento, e não tirei, pois percebi a asneira que seria deixar de viver uma felicidade inteira, para mostrar uma felicidade incompleta.] </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicrKaFQeZdtkj-ivmAMxznaabHxgSvC9rrCMZfgAx2OvjqBGIlWL89dGHL_zWvA9XNXjo1dlKR9lJEcCPYu_vfJd0aRzpe54M9_1opjCH8ebtoSqQCL4Zqy3cwHW378tacbcmccu6S-uk/s1600/Universidade-da-Correria-601x275.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="275" data-original-width="601" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicrKaFQeZdtkj-ivmAMxznaabHxgSvC9rrCMZfgAx2OvjqBGIlWL89dGHL_zWvA9XNXjo1dlKR9lJEcCPYu_vfJd0aRzpe54M9_1opjCH8ebtoSqQCL4Zqy3cwHW378tacbcmccu6S-uk/s640/Universidade-da-Correria-601x275.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Afinal, que tipo de pessoa se sente feliz podendo passar mais tempo com seu filho, ou com seu amado? Que tipo de pessoa se sente feliz podendo tomar um chimarrão ao fim do dia, sem ter mil coisas na cabeça esperando que você as faça? Que tipo de pessoa se sente feliz lendo um livro despretensiosamente, apenas pelo prazer de ler, ou vendo um filme bacana? Que tipo de pessoa ordinária e cretina pode se sentir feliz vivendo bem o tempo presente? Pois eu digo que só pode ser um doido varrido alguém que é feliz assim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ora pois!!! Já disse, está terminantemente proibido ser feliz, genuinamente feliz. O protocolo só vem aceitando o plasticamente feliz, ok? Não se esqueça disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E quando você esbarra por aí, na rua, no trem, no ônibus, enfim, com aquele antigo colega que era um dos seus melhores amigos e vocês se divertiam às fartas?!! A frase mais dita nessas horas é: "Tô na correria, mas vamos marcar um dia!" E, é lógico, esse dia nunca é marcado. Não sei, mas me parece que essa frase "tô na correria" está envolta numa falsa aura de status quo superior. De alguma forma que ainda não compreendi, a vida dessas pessoas que estão sempre na correria valem mais, não pra elas, claro, que estão constantemente hipotecando seu agora, mas pra alguém. Também não descobri pra quem ainda, mas vá lá, ainda estou no começo das minhas obervações antropológicas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando muito, a vida tem se convertido em finais de semana, quando muito. Quando os finais de semana também não são usados para mostrar como se tem tantas coisas super legais para fazer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, saindo do modo sarcasmo ácido agora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLdlEVJv_iMo0eZOrUx0GQlDJFKZdEEXrJBwXk6n7k4J8oufvbDh2HzvQ1yOyDYQsHYQV3bSHyJgbP74JHD9NxhlaTKUnmvnoTN8hpaFS6wNRyiJN7VxjfuWQqeAyfTDOlex0alfpGnwY/s1600/a-paz-de-deus.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLdlEVJv_iMo0eZOrUx0GQlDJFKZdEEXrJBwXk6n7k4J8oufvbDh2HzvQ1yOyDYQsHYQV3bSHyJgbP74JHD9NxhlaTKUnmvnoTN8hpaFS6wNRyiJN7VxjfuWQqeAyfTDOlex0alfpGnwY/s400/a-paz-de-deus.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não estou dizendo que todos devem se acomodar com uma casinha no campo. Veja bem, não é isso. Estou dizendo que a grande maioria está correndo como ratinhos dentro de um labirinto sem realmente perceber o que está fazendo, sem se dar conta de que estão perdendo suas vidas, seus pequenos momentos que nunca mais voltarão. O verdadeiro valor da vida, e das relações está se perdendo, se transformando numa valorização descabida de "objetivos alcançados" que nem sequer são verdadeiramente nossos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É como se as pessoas estivessem sempre esperando o amanhã para serem realmente felizes. Hipotecar o hoje, acreditando que a felicidade está sempre depois de algo, não gera outra coisa senão pessoas frustradas, amargas, arrependidas e invejosas. E, ao que me parece, estamos presos num ciclo cada vez mais intenso disto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, tenho cada vez mais orgulho e tranquilidade em perceber que me encaixo na categoria de doidos varridos.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
...</div>
<div style="text-align: justify;">
...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
20 de Setembro de 2015.</div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-37951459853891645582018-01-21T05:40:00.001-08:002018-01-21T05:40:42.570-08:00Política, ou nem tanto. <div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de ação democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e atuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder econômico, com a objetiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os de certas conhecidas minorias eternamente descontentes...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
[José Saramago, Esse mundo de injustiça globalizada, 2002.]<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeyQSb8Grecu4L56RA5qLUWTYPKL6Q-d3KLEcCbxbSuzI0yxANiMkmvGSNyUHXtGb9YOBn2eaMx4U96ll5R6779mYpwOSyNkQwwOPVbS6o_9twANJlrXn5PYDcnuOP0CpO7ffj6_uidKs/s1600/jose-saramago.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="995" data-original-width="1000" height="397" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeyQSb8Grecu4L56RA5qLUWTYPKL6Q-d3KLEcCbxbSuzI0yxANiMkmvGSNyUHXtGb9YOBn2eaMx4U96ll5R6779mYpwOSyNkQwwOPVbS6o_9twANJlrXn5PYDcnuOP0CpO7ffj6_uidKs/s400/jose-saramago.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">José Saramago</td></tr>
</tbody></table>
<br />K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-62070618334752212572018-01-21T05:35:00.002-08:002018-01-21T05:35:41.002-08:00Não a vida, nem o tempo. Mas o tamanho.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
— O maior mistério que o universo propõe não é a vida, mas o tamanho. A criança, que em geral está familiarizada com o espanto, diz: papai, o que existe em cima do céu? E o pai diz: a escuridão do espaço. A criança: o que existe depois do espaço? O pai: a galáxia. A criança: depois da galáxia? O pai: outra </div>
<div style="text-align: justify;">
galáxia. A criança: depois das outras galáxias? O pai: ninguém sabe. Está entendendo? O tamanho nos derrota. Para o peixe, o lago onde ele vive é o universo. O que pensa o peixe quando é puxado pela boca por um gancho prateado, nos limites da existência, e penetra num novo universo onde o ar afoga e a luminosidade é uma loucura azulada? Onde enormes bípedes sem guelras o amontoam para morrer numa caixa sufocante, forrada de vegetação úmida? </div>
<div style="text-align: justify;">
Ou se pode pegar a ponta de um lápis e ampliá-la. Vamos chegar a um ponto onde uma atordoante compreensão cai sobre nós: a ponta do lápis não é sólida; é composta de átomos que giram e rodopiam como um trilhão de diabólicos planetas. O que nos parece sólido é apenas uma rede de coisas soltas, mantidas juntas pela gravidade. Vistas na sua real dimensão, as distâncias entre esses átomos podem se tornar quilômetros, abismos, eternidades. Os próprios átomos são compostos de núcleos com prótons e </div>
<div style="text-align: justify;">
elétrons girando em torno deles. Podemos descer ainda mais até as partículas subatômicas. E depois para o quê? Para os táquions? Para nada? Claro que não. Tudo no universo rejeita o nada; sugerir um término é o </div>
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único absurdo que existe.</div>
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Se você recuasse para o limite do universo, será que encontraria uma cerca de madeira e tabuletas dizendo SEM SAÍDA? Não. Talvez você encontrasse algo duro e arredondado, como o pintinho deve ver o ovo do </div>
<div style="text-align: justify;">
seu interior. E se você atravessasse a casca beliscando (ou encontrasse uma porta), não poderia jorrar, nesses confins do espaço, uma incrível luz torrencial através da abertura? Você não poderia olhar por ali e descobrir que todo o nosso universo é apenas parte de um átomo numa camada de relva? </div>
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Não poderia ser levado a pensar que, ao queimar um graveto, você está </div>
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incinerando uma eternidade de eternidades? Que a existência não avança para um infinito mas para uma infinidade deles?</div>
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<br /></div>
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[Stephen King, O pistoleiro, 1982]</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5NDv-4Y8IBy-JD4KMr6eklF4VXixZPwzHVbsaF_f4kkRnxdsyDk2mBPnKtHydpVSIyZprzcGUaUqz7JK4NVmNxKMPNY_O66h-Z29XE-S9V6rlyLW6NknFwQVmvoOhu_7AIdwSTD4XlsY/s1600/astronomos-descobriram-galaxias-escondidas-atras-da-via-lactea.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1131" data-original-width="1600" height="451" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5NDv-4Y8IBy-JD4KMr6eklF4VXixZPwzHVbsaF_f4kkRnxdsyDk2mBPnKtHydpVSIyZprzcGUaUqz7JK4NVmNxKMPNY_O66h-Z29XE-S9V6rlyLW6NknFwQVmvoOhu_7AIdwSTD4XlsY/s640/astronomos-descobriram-galaxias-escondidas-atras-da-via-lactea.jpg" width="640" /></a></div>
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K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-37288946637160389352018-01-21T05:10:00.003-08:002018-01-21T05:10:39.339-08:00Parecer nenhum sobre nada. 04 de Abril de 2012.<div style="text-align: justify;">
A dúvida. Nada tem ela que ver com um tal de deus, ou deuses. Não, não se trata disto. Quanto a ele - ou eles -, meus pareceres permanecem bem certos, ou seja, continuam sem certeza alguma, em absoluto. Porém, sempre acompanhados de um tanto de olhar enviesado, e outro tanto de desconfiança. A esperança, se existe, é esmagada todos os dias pelo quadro social ao qual somos tortuosamente obrigados a assistir.</div>
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<br /></div>
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Contudo, e por isso mesmo - não podendo ser em nada diferente por condição obrigatória de natureza -, nós, românticos eternos, românticos eternos e etéreos, necessitamos fundamentalmente da crença na existência de um outro mundo dentro desse mesmo mundo de onde falo agora. Um outro mundo nesse mesmo mundo, onde existam coisas tremendamente misteriosas e fascinantes, segredos perpetuamente inescrutáveis. Nós, românticos eternos e etéreos, mais do que necessitar, queremos esse mundo outro, esse outro mundo. Esse mundo dos vivos do qual se gabam com tanta pompa não nos satisfaz.</div>
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E ainda que nossa razão racional, dura de pedra e sensata, ainda que toda essa mobília garbosa que carregamos em nossas mentes, nomeada de conhecimento científico, mesmo que tudo isso nos atrase as ilusões coloridas, desmentindo-as acertadamente, mesmo assim nós as invocamos diariamente, sagradamente e irrevogavelmente, todos os dias. "Graduamos a imaginação em consciência", porque somos os românticos eternos e etéreos.</div>
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<br /></div>
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<i>"Além desta terra e além da espécie humana há um mundo invisível e um reino de espíritos; esse mundo está à nossa volta, pois está por toda parte."</i> (Charlotte Brontë em Jane Eyre)</div>
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<i>"Pareceu-me - que os céus nos ajudem, como sabemos pouco sobre tudo! - que uma cena daquele tipo seria capaz de deixar a sua marca no cerne oculto da natureza."</i> (Margaret Oliphant em A porta aberta)</div>
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<span style="font-size: large;"><i><b>Adendo Lovecraftiano. </b></i></span></div>
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<span style="font-size: large;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1zbDgjTN840SZzZUZkXzOFKsqM9v4qhnc6vWb-Pf_OQenekGblverWxkwZuXwzq1ICsrrP_6OJIa_-M8whFEy16FH7i3UUs4aYCvZEClfYbDNrSCz25AXGvG4uqxCQasDjWTe-tzaOUo/s1600/the_picture_in_the_house_by_mercvtio-d6uyq7i.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="728" data-original-width="1098" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1zbDgjTN840SZzZUZkXzOFKsqM9v4qhnc6vWb-Pf_OQenekGblverWxkwZuXwzq1ICsrrP_6OJIa_-M8whFEy16FH7i3UUs4aYCvZEClfYbDNrSCz25AXGvG4uqxCQasDjWTe-tzaOUo/s640/the_picture_in_the_house_by_mercvtio-d6uyq7i.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fonte: https://lovecraftianscience.files.wordpress.com/2015/01/the_picture_in_the_house_by_mercvtio-d6uyq7i.jpg</td></tr>
</tbody></table>
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"Não éramos, como já disse, de maneira alguma infantilmente supersticiosos, mas o estudo científico e a reflexão nos haviam ensinado que o universo conhecido de três dimensões abarca uma fração ínfima de todo o cosmos de substância e energia. Naquela casa, um grande número de indícios, proveniente de numerosas fontes autênticas, apontava para a existência tenaz de certas forças de grande poder e, no que tange ao ponto de vista humano, excepcional malignidade. Declarar que verdadeiramente acreditávamos em vampiros ou lobisomens seria uma assertiva levianamente genérica. Mais correto seria dizer que não estávamos dispostos a negar a possibilidade de certas modificações desconhecidas e ainda não classificadas de força vital e matéria atenuada. Tais modificações se dariam com certa raridade no espaço tridimensional devido à ligação mais estreita desse espaço com outras unidades espaciais, mas ocorreriam suficientemente perto da fronteira de nosso espaço para nos proporcionar manifestações ocasionais que, por falta de um adequado ponto de observação, talvez nunca possamos vir a compreender.</div>
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Em suma, julgávamos, meu tio e eu, que um conjunto incontroverso de fatos apontavam para alguma influência persistente na casa abandonada. Essa influência podia ser atribuída a um ou outro dos rudes colonos franceses de dois séculos passados e ainda atuava através de leis desconhecidas de movimento atômico e eletrônico. O registro da história da família de Roulet parecia comprovar que ela possuíra uma afinidade anormal com círculos externos de entidade – domínios sombrios pelos quais a gente normal sente apenas repulsa e terror. Não seria de imaginar, então, que as rixas daqueles anos remotos da década de 1730 houvessem acionado algumas forças cinéticas no cérebro mórbido de um ou mais deles – principalmente no do sinistro Paul Roulet – que obscuramente haviam sobrevivido aos corpos assassinados e haviam continuado a atuar em algum espaço multidimensional segundo as linhas originais de força determinadas por um ódio desvairado contra a comunidade invasora?</div>
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Tal fato não constituía decerto uma impossibilidade física ou bioquímica à luz de uma nova ciência que inclui as teorias da relatividade e da ação intra-atômica. Podia-se facilmente imaginar um núcleo alienígena de substância ou energia, informe ou não, conservado vivo por meio de subtrações imperceptíveis ou imateriais da força vital ou dos tecidos e fluidos corporais de outros seres vivos, mais palpavelmente vivos, nos quais ele penetra e com cuja trama às vezes se funde completamente. Ele poderia ser ativamente hostil ou poderia obedecer tão-somente às cegas motivações da autoconservação. Em todo caso, tal monstro seria necessariamente, em nossa ordem de coisas, uma anomalia e uma intrusão, cuja extirpação constitui dever primacial de todo homem que não seja inimigo da vida, da saúde e da sanidade do mundo."</div>
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[H. P. Lovecraft. A casa abandonada, 1924]</div>
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K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-27851068533700167572018-01-21T04:50:00.003-08:002018-01-21T04:51:06.041-08:00Sobre o medo. Prefácio de Stephen King, 1977.<div style="text-align: justify;">
Eu fiquei realmente fascinada por esse prefácio de Sombras da Noite, do Stephen King. O livro é uma reunião de contos que foi publicado pela primeira vez em 1978. Nesse prefácio, King fala sobre o medo, sobre a fascinação pelo oculto, pelo mistério e pelo macabro. Traz algumas noções explicativas realmente esclarecedoras e surpreendentes. Eu, enquanto fã dessa gênero de produção, tanto cinematográfica, quanto literária, achei de fundamental validade as considerações que o autor faz. Uma verdadeira contribuição para o entendimento - ou, pelo menos, para uma maior compreensão - dessa delicada relação de fascínio entre o ser humano e o oculto.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvYZDZMh9qEnT1hrNf84jITiiOSR8deYecSrZKB-l0Au-ejssV_9zmQ4aNOXaawIUk3QfR2vvRT4LsJKNNNequYCu9SMxPw-NMad9ALrihXusprCzoNJ_UkMD_oKAOoxWehlClGVb5Fqg/s1600/Livro+Sombras+da+Noite.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1113" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvYZDZMh9qEnT1hrNf84jITiiOSR8deYecSrZKB-l0Au-ejssV_9zmQ4aNOXaawIUk3QfR2vvRT4LsJKNNNequYCu9SMxPw-NMad9ALrihXusprCzoNJ_UkMD_oKAOoxWehlClGVb5Fqg/s400/Livro+Sombras+da+Noite.jpg" width="277" /></a></div>
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<i>Vamos conversar, você e eu. Vamos conversar sobre o medo.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A casa está vazia quando escrevo isto; uma fria chuva de fevereiro cai lá fora. É noite. Às vezes, quando o vento sopra do jeito que está soprando agora, falta luz. Mas por enquanto não está faltando, então vamos conversar muito honestamente sobre o medo. Vamos conversar muito racionalmente sobre chegar às raias da loucura… e talvez cruzar a fronteira.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Meu nome é Stephen King. Sou um homem adulto, com mulher e três filhos. Eu os amo, e acredito que o sentimento seja recíproco. Meu trabalho é escrever, e é um trabalho de que gosto muito. As histórias – Carrie, a estranha, A hora do vampiro e O iluminado – fizeram sucesso suficiente para me permitir escrever em tempo integral, o que é algo agradável de se fazer. Neste momento da minha vida, parece que estou razoavelmente saudável. No ano passado, consegui diminuir meu vício de fumar, trocando a marca de cigarros sem filtro que fumava desde os 18 anos por uma outra, com baixos teores de nicotina e alcatrão, e ainda tenho esperanças de conseguir parar por completo. Minha família e eu vivemos numa casa agradável junto a um lago relativamente livre de poluição no Maine; no outono passado, acordei certa manhã e vi um cervo no gramado dos fundos, junto à mesa de piquenique. Temos uma vida boa.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Mesmo assim… vamos conversar sobre o medo. Não vamos elevar nossas vozes nem gritar; vamos conversar racionalmente, você e eu. Vamos conversar sobre o modo como o tecido resistente das coisas consegue se rasgar de maneira assustadoramente repentina.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>À noite, quando vou para a cama, ainda me esforço para ter certeza de que minhas pernas estejam debaixo dos cobertores quando as luzes de apagam. Não sou mais criança, mas… não gosto de dormir com uma perna para fora. Porque se uma mão fria sair de sob a cama e agarrar meu tornozelo, sou capaz de gritar. Sim, sou capaz de gritar a ponto de acordar os mortos. Esse tipo de coisa não acontece, é claro, todos nós sabemos disso. Nas histórias que se seguem, você vai encontrar todo tipo de criaturas da noite: vampiros, amantes demoníacos, uma coisa que vive dentro de um armário, todo tipo de horrores diversos. Nenhum deles é real. Sei disso, e também sei que se eu tomar cuidado e ficar sempre com as pernas debaixo da coberta, ela jamais vai conseguir agarrar meu tornozelo.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Às vezes falo diante de grupos de pessoas interessadas pela escrita ou pela literatura, e antes que termine o tempo das perguntas e respostas, alguém sempre se levanta e indaga: Por que você escolheu escrever sobre temas tão horríveis?</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Normalmente respondo com outra pergunta: Por que você acha que eu tenho escolha?</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Escrever é meio que uma ocupação improvisada. Todos nós parecemos vir equipados com filtros no chão das nossas mentes, e todos os filtros têm tamanhos e tramas diferentes. O que fica preso no meu filtro pode passar pelo seu. O que fica preso no seu talvez passe sem problemas pelo meu. Todos nós parecemos ter a obrigação inata de remexer nos resíduos que ficam presos em nossos respectivos filtros mentais, e o que encontramos ali normalmente evolui para uma espécie de atividade paralela. O contador também pode ser um fotógrafo. O astrônomo talvez colecione moedas. O professor pode copiar entalhes de lápides, usando a técnica de passar carvão por cima de um papel. Os resíduos apanhados pelo filtro mental, aqueles que se recusam a passar, com freqüência se tornam a obsessão particular de cada um. Na sociedade civilizada, temos um acordo tácito de chamar nossas obsessões de “hobbies”.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Às vezes o hobby pode-se tornar uma ocupação em tempo integral. O contador pode descobrir que é capaz de ganhar dinheiro suficiente para sustentar a família tirando fotografias; o professor pode se tornar tão competentes nas cópias de lápides a ponto de começar a fazer conferências sobre o assunto. E há algumas profissões que começam como hobbies e continuam sendo hobbies mesmo depois que o praticante consegue ganhar a vida dedicando-se a eles; mas como hobby é uma palavra aparentemente tão corriqueira e sem graça, também temos um acordo tácito de chamar nosso hobbies profissionais de “as artes”.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Pintura. Escultura. Composição. Canto. Representar. Tocar um instrumento musical. Escrever. Livros já foram escritos sobre os setes assuntos em quantidade suficiente para afundar uma frota de transatlânticos de luxo. E a única coisa que parecemos concordar a respeito deles é o seguinte: que aqueles que se dedicam honestamente a estas artes continuariam a se dedicar mesmo se não fossem pagos por seus esforços; mesmo que seus esforços fossem criticados ou até difamados; mesmo sob risco de prisão ou morte. Para mim, esta parece ser uma definição bem precisa do comportamento obsessivo. Aplica-se aos hobbies comuns tanto quanto aos sofisticados q que chamamos “as artes”; colecionadores de armas colam em seus carros adesivos com a frase “você só tira minha arma dos dedos gelados do meu cadáver”, e nos subúrbios de Boston, donas de casa que descobriram a militância política durante a confusão dos ônibus* com freqüência exibem adesivos semelhantes com as palavras “você vai ter que me levar presa antes de tirar meus filhos do bairro” no vidro traseiro de seus carros de família. De maneira similar, se amanhã colecionar moedas passasse a ser ilegal, o astrônomo muito provavelmente não entregaria os centavos feitos de aço e as moedas de cinco centavos com efígie de búfalo; ia embrulhá-las cuidadosamente em plástico, enfiá-las no tanque da descarga da privada e regozijar-se com elas depois da meia-noite.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Parece que nos afastamos do assunto do medo, mas na verdade ainda não nos afastamos tanto assim. O resíduo que fica preso na tela do meu filtro mental é a substância do medo. Minha obsessão é pelo macabro. Não escrevi nenhuma das histórias que se seguem por dinheiro, embora algumas delas tenham sido vendidas para revistas antes de aparecerem aqui; e eu nunca devolvi um cheque sem tê-lo descontado. Posso ser obsessivo, mas não louco. No entanto, repito: não as escrevi por dinheiro; escrevi porque me ocorreu escrevê-las. Tenho uma obsessão comercializável. Há homens e mulheres loucos, presos em celas acolchoadas pelo mundo afora, que não têm tanta sorte assim.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Não sou um grande artista, mas sempre me senti compelido a escrever. Então, a cada dia volto a remexer nos resíduos, examinando os refugos da observação, da memória, da especulação, tentando criar algo com aquela substância que não passou pelo filtro e não conseguiu ir embora pelo ralo do subconsciente.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Eu e Louis L´Amour, o escritor de faroestes, poderíamos estar de pé nas margens de um pequeno lago no Colorado, e ambos poderíamos ter uma idéia exatamente no mesmo instante. Poderíamos ambos sentir o impulso de nos sentar e tentar expressá-la em palavras. A história dele talvez fosse sobre o direito à água na estação da seca; minha história provavelmente seria sobre uma criatura enorme e terrível emergindo das águas calmas e sumindo com carneiros… e cavalos… e pessoas. A “obsessão” de L´Amour está centralizada na história do Oeste americano; eu tendo mais na direção das coisas que se esgueiram sob a luz das estrelas. Ele escreve faroestes; eu escrevo histórias de terror. Ambos somos um pouco malucos.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>As artes podem obcecar, e a obsessão é perigosa. É como uma faca dentro da mente. Em alguns casos – Dylan Thomas me vem à mente, e Ross Lockridge, e Hart Crane, e Sylvia Plath – , a faca pode se voltar selvagemente contra a pessoa que a empunha. A arte é uma doença localizada, normalmente benigna – pessoas criativas tendem a viver por longos anos -, às vezes terrivelmente maligna. Você usa a faca com cuidado, porque sabe que ela não se importa em saber quem está cortando. E se você for inteligente, remexe nos resíduos com cuidado… porque algumas coisas ali talvez não estejam mortas.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>* nos anos 60, uma política norte americana que objetivava promover a integração racial levava de ônibus crianças de seu distrito residencial para estudar em escolas de distritos diferentes, numa espécie de permuta. Nos EUA, cada distrito é autônomo e as crianças estudam obrigatoriamente na escola pública de seu distrito – ou optam por uma escola particular, que é muito raro.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Depois de a pergunta sobre “por que você escreve essas coisas” ter sido respondida, surge outra que a acompanha: por que as pessoas lêem essas coisas? O que faz com que vendam? Essa pergunta leva consigo uma suposição oculta, e é a suposição de que gostar de histórias sobre o medo, sobre o terror, não é lá muito saudável. As pessoas que escrevem para mim muitas vezes começam dizendo, “imagino que você vai achar que sou estranho, mas eu realmente gostei de A Hora do Vampiro”, ou “provavelmente sou mórbido, mas adorei cada página de O Iluminado”…</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Acho que a explicação para isso pode estar num trecho de uma crítica de cinema da revista Newsweek. A crítica de um filme de terror, não muito bom, e dizia algo mais ou menos assim: “…um filme maravilhoso para pessoas que gostam de diminuir a velocidade para ver acidentes de carro”. É uma frase incisiva, mas quando você pára pra pensar nela, vê que se aplica a todos os filmes e histórias de terror. A Noite dos Mortos Vivos, com suas cenas hediondas de canibalismo humano e matricídio, certamente era um filme destinado às pessoas que gostam de diminuir a velocidade para ver acidentes de carro; e quanto àquela garotinha vomitando sopa de ervilha em cima do padre, em O Exorcista? Drácula, de Bram Stoker, freqüentemente uma base de comparação para histórias modernas de terror (como deveria ser; é a primeira com um toque abertamente psicofreudiano), apresenta um maníaco chamado Renfield que devora moscas, aranhas e, por fim, um passarinho. Ele regurgita o passarinho, que havia comido inteiro, com penas e tudo. O romance também fala de empalação – a penetração ritual, se poderia dizer – de uma jovem e adorável vampira, e o assassinato de um bebê e sua mãe.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A grande literatura do sobrenatural muitas vezes contém a mesma síndrome do “vamos diminuir e dar uma olhada no acidente”: Beowulf matando a mãe de Grendel; o narrador de “O coração denunciador” desmembrando seu benfeitor acometido de catarata e colocando os pedaços debaixo das tábuas do piso; a feroz batalha do hobbit Sam contra Laracna, a aranha, no livro final da trilogia do anel, de Tolkien.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Alguns vão se opor com firmeza a esta linha de pensamento, dizendo que Henry James não nos mostra um acidente de carro em “A volta do parafuso”; dirão que as histórias de Nathaniel Hawthorne sobre o macabro, tais como “O jovem Goodman Brown” e “O véu negro do ministro” também são de melhor gosto do que Drácula. A idéia não faz sentido. Eles ainda estão mostrando acidentes de carro; os corpos foram removidos, mas ainda podemos ver as ferragens retorcidas e observar o sangue sobre o estofamento. Em alguns casos, a delicadeza, a ausência de melodrama, o tom grave e estudado de racionalidade que perpassa uma história como “O véu negro do ministro” é ainda mais terrível do que as monstruosidades batráquias de Lovecraft ou o auto-da-fé de “O poço e o pêndilo”, de Poe.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O fato é – e a maior parte de nós sabe disso, no fundo – que muito poucos entre nós conseguem evitar uma espiada nervosa para a sucata cercada por carros de polícia e sinais luminosos na estrada, à noite. Idosos apanham o jornal pela manhã e imediatamente abrem na coluna de óbitos, para ver quem se foi antes deles. Todos nós ficamos abalados por um momento quando ouvimos dizer que um Dan Blocker morreu, um Freddie Prinze, uma Janis Joplin. Sentimos terror misturado com um estranho júbilo quando ouvimos Paul Harvey anunciar no rádio que uma mulher foi apanhada pela hélice de um avião durante uma tempestade, num pequeno aeroporto do interior, ou que um homem foi vaporizado imediatamente num liquidificador industrial gigante quando um colega de trabalho esbarrou num dos controles. Não é preciso elaborar o óbvio; a vida está cheia de horrores pequenos e grandes, mas pelo fato de os pequenos serem aqueles que conseguimos compreender, são os que nos atingem com toda a força da mortalidade.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Nosso interesse nesses horrores de bolso é inegável, mas também o é nossa repulsa. Os dois se misturam com dificuldade, e o produto dessa mistura parece ser a culpa… uma culpa que não parece muito diferente da culpa que costuma acompanhar o despertar sexual.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Não me cabe dizer a você que não se sinta culpado, assim como não me cabe oferecer justificativas aos meus romances e aos contos que se seguem. Mas um interessante paralelo entre o sexo e o medo pode ser observado. Quando nos tornamos capazes de ter relações sexuais, nosso interesse por essas relações é despertado; o interesse, a menos que de algum modo seja pervertido, tende naturalmente na direção da cópula e da continuidade da espécie. Quando nos damos conta do nosso fim inevitável, também nos damos conta da emoção do medo. E acho que, como a cópula leva à auto preservação, todo o medo leva a uma compreensão do nosso fim derradeiro.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Há uma antiga fábula sobre sete cegos que agarraram sete diferentes partes de um elefante. Um deles achou que segurava uma cobra, outro achou que tinha nas mãos uma palmeira gigante. Outro pensou que tocava numa pilastra de pedra. Quando se reuniram, chegaram à conclusão de que se tratava de um elefante.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O medo é a emoção que nos torna cegos. De quantas coisas temos medo? Temos medo de desligar a luz quando nossas mãos estão molhadas. Temos medo de enfiar uma faca dentro da torradeira para tirar o muffin inglês que ficou preso lá dentro sem desligá-la primeiro da tomada. Temos medo do que o médico pode nos dizer quando o exame tiver terminado; quando o avião de repente dá uma sacudida em pleno vôo. Temos medo de que o petróleo acabe, de que o ar puro se acabe, de que a água potável, a vida saudável se acabe. Quando a filha prometeu chegar as onze e já é meia noite e quinze e a chuva congelada fustiga a janela como areia seca, nós nos sentamos e fingimos assistir Johnny Carson, e olhamos ocasionalmente para o telefone mudo, e sentimos a emoção que nos torna cegos, a emoção que deixa em ruínas o processo do pensamento.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A criança é uma criatura destemida apenas até a primeira vez em que sua mãe não está lá pra colocar o mamilo dentro de sua boca quando ela chora. O bebê que começa a andar logo descobre as verdades duras e dolorosas da porta que se bate, da boca acesa do fogão elétrico, da febre que vem com a laringite ou o sarampo. As crianças aprendem rápido o medo; conseguem percebê-lo no rosto da mãe ou do pai quando um deles entra no banheiro e as vê com um frasco de remédio ou o aparelho de barbear.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O medo nos deixa cegos, e tocamos cada medo com a ávida curiosidade do interesse próprio, tentando construir um todo a partir de uma centena de partes, como os homens cegos e seu elefante.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Sentimos a forma. As crianças percebem depressa, esquecem, e reaprendem quando se tornam adultas. A forma está ali, e a maioria de nós se dá conta do que se trata mais cedo ou mais tarde: é a forma de um corpo debaixo de um lençol. Todos os nossos medos reunidos constituem um grande medo, todos os nossos medos são parte desse grande medo – um braço, uma perna, um dedo, uma orelha. Temos medo do corpo debaixo do lençol. É o nosso corpo. E o grande atrativo da ficção de terror ao longo das épocas é que ela serve de ensaio para a nossa própria morte.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Esse ramo nunca foi muito respeitado; durante muito tempo os únicos amigos que Poe e Lovecraft tinham eram os franceses, que de algum modo chegaram a um acordo tanto com o sexo quanto com a morte, um acordo para o qual os compatriotas americanos de Poe e Lovecraft não tiveram paciência. Os americanos estavam ocupados construindo rodovias, e Poe e Lovecraft morreram pobres. A fantasia de Tolkien sobre a Terra Média vagou a esmo durante vinte anos antes de obter algum sucesso fora do nicho da contracultura, e Kurt Vonnegut, cujos livros geralmente lidam com a idéia do ensaio para a morte, tem enfrentado uma onda constante de críticas, a maioria delas chegando às raias da histeria.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Talvez isso se dê porque o autor de histórias de terror sempre traz más notícias: você vai morrer, ele fala; diz pra você não dar importância a Oral Roberts** e seu “algo de bom vai acontecer com você”, porque algo de ruim também vai acontecer com você, e talvez seja câncer, ou talvez seja ataque cardíaco, ou talvez seja um acidente de carro, mas vai acontecer. E o autor toma sua mão na dele, e o leva para dentro do quarto e coloca suas mãos sobre aquela forma debaixo do lençol… e lhe diz para tocar aqui… aqui… e aqui…</i></div>
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<i>É claro que os temas da morte e do medo não são território exclusivo do escritor de terror. Vários dos escritores chamados “tradicionalistas” lidaram com esses temas, e de uma variedade de formas diferentes – desde “Crime e Castigo”, de Fiodor Dostoievski, a “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”, de Edward Albee e às histórias de Lew Archer, por Ross MacDonald. O medo sempre foi um tema importante. A morte foi um tema importante. São duas constantes do ser humano. Mas apenas o escritor de terror e do sobrenatural dá ao leitor uma oportunidade para total identificação e catarse. Os que trabalham no gênero com a mínima compreensão que seja do que estão fazendo sabem que todo o território do horror e do sobrenatural é uma espécie de filtro entre o consciente e o subconsciente; a ficção de terror é como uma estação central de metrô na psique humana, entre a linha azul daquilo que conseguimos incorporar com segurança e a linha vermelha daquilo de que precisamos nos livrar, de um jeito ou de outro.</i></div>
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<i>Quando você lê histórias de horror, não acredita realmente no que está lendo. Não acredita em vampiros, lobisomens, caminhões que subitamente funcionam, e se movem sozinhos. Os horrores em que todos nós acreditamos são do tipo descrito Dostoievski e Albee e MacDonald: o ódio, a alienação, envelhecer sem amor, adentrar um mundo hostil com as pernas inseguras da adolescência. Nós somos, em nosso mundo real e cotidiano, muitas vezes semelhantes às máscaras da Comédia e da Tragédia, rindo por fora, uma careta de dor por dentro. Há um interruptor central em algum lugar dentro de nós, um transformador, talvez, onde os fios que ligam as duas máscaras se conectam. E esse é o local onde a história de terror muitas vezes atinge seu alvo.</i></div>
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<i>O escritor de histórias de terror não é tão diferente do comedor de pecados galês, que teoricamente assume os pecados do caro falecido comendo a comida dele. O conto que trata de monstruosidades e terror é um cesto mais ou menos cheio de fobias; quando o escritor passa, você tira do cesto um dos horrores imaginários dele e coloca ali um dos seus horrores pessoais reais – pelo menos por algum tempo.</i></div>
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<i>Nos idos de 1950, houve uma onda tremenda de filmes sobre insetos gigantes – O Mundo em Perigo, O Começo do Fim, The Deadly Mantis (A louva-a-deus mortífera) e assim por diante. Quase sem exceção, com o desenrolar do filme descobríamos que aqueles mutantes horrorosos e gigantescos eram resultado de testes atômicos no novo México ou em algum atol no Pacífico (e no mais recente Horror of Party Beach (O horror na praia de festas), que poderia ter recebido o subtítulo de Beach Blanket Armaggedon (Armageddon na toalha de praia), a culpa caia no lixo atômico). Considerados em conjunto, os filmes de insetos gigantes formam um padrão inegável, uma desconfortável gestald do terror de um país inteiro diante da nova era que o Projeto Manhattan inaugurara. Mais tarde nos anos 50 houve um ciclo de filmes de terror “adolescentes”, começando com I was a teenage werewolf e culminando com épicos como Teenagers from outer space (adolescentes extraterrestres) e A Bolha Assassina, em que um Steve McQueen imberbe lutava contra uma espécie de gelatina mutante com a ajuda de seus amigos adolescentes. Numa época em que todas as revistas semanais continham pelo menos um artigo sobre o aumento da delinqüência juvenil, os filmes de terror juvenis expressavam o desconforto de todo um país diante da revolução jovem que já se fermentava; quando você via Michael London se transformar num lobisomem com um casaco de ginasial, uma conexão se estabelecia entre a fantasia na tela e suas próprias ansiedades flutuantes dirigidas ao nerd no carrão envenenado que sua filha estava namorando. Para os próprios adolescentes (eu era um deles e falo por experiência própria), os monstros produzidos pelos estúdios da American-Internacional davam a oportunidade de ver alguém ainda mais feio do que eles se sentiam; o que eram umas poucas espinhas comparadas àquela coisa trôpega que antes era um ginasial em I was a teenage Frankenstein (eu fui um Frankenstein adolescente)? O mesmo ciclo também expressava os sentimentos dos próprios adolescentes, de que estavam sendo injustamente subjulgados e diminuídos pelos mais velhos, que seus pais simplesmente “não entendiam”. Os filmes obedecem a uma formula (como grande parte da ficção de terror, escrita ou filmada), e o que esta formula expressa com maior clareza é a paranóia de toda uma geração – uma paranóia sem dúvida causada, em parte, por todos os artigos que seus pais estavam lendo. Nos filmes, uma criatura terrível e verruguenta está ameaçando Elmville. Os garotos sabem, porque o disco voador pousou perto da alameda dos namorados. No primeiro rolo de filme, a criatura verruguenta mata um velho numa picape (o velho era invariavelmente interpretado por Elisha Cook Jr). Nos três rolos seguintes, os garotos tentam convencer os mais velhos de que aquela criatura verruguenta está de fato à solta nas redondezas. “Dêem o fora daqui antes que eu prenda vocês todos por viola o toque de recolher!”, o chefe de polícia de Elmville brada logo antes que o monstro se esgueire pela Main Street, deixando um rastro de destruição por toda parte. No fim, são os garotos espertos que dão cabo da criatura verruguenta, e depois se reúnem no ponto de encontro costumeiro para tomar chocolate maltado e dançar ao som de alguma cançãozinha boba enquanto os créditos deslizam pela tela.</i></div>
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<i>São três oportunidades distintas de catarse num ciclo de filmes – nada mau para um punhado de épicos de baixo orçamento que normalmente eram rodados em menos de dez dias. Isso não aconteceu porque os roteiristas e produtores e diretores desses filmes queriam que acontecesse; aconteceu porque as histórias de terror ficam mais à vontade naquele ponto de conexão entre o consciente e o subconsciente, o lugar onde tanto a imagem como a alegoria ocorrem mais naturalmente e com efeito mais devastador. Há uma linha direta de evolução entre I was a teenage werewolf e Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, e entre Teenage Monster (monstro adolescente) e o filme de Brian de Palma, Carrie, a estranha.</i></div>
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<i>** Tele-evangelista norte-americano.</i></div>
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<i>A grande ficção de horror é quase sempre alegórica; às vezes a alegoria é intencional, como em A revolução dos Bichos e 1984, e às vezes simplesmente acontece – J.R.R. Tolkien jurava de pés juntos que o Senhor do Escuro de Mordor não era Hitler num disfarce da fantasia, mas as teses e monografias continuam afirmando o contrário… talvez porque, como diz Bob Dylan, quando você tem muitas facas e garfos, tem de cortar alguma coisa.</i></div>
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<i>As obras de Edward Albee, de Steinbeck, Camus, Faulkner – essas obras lidam com o medo e a morte, às vezes com o horror, mas normalmente esses escritores tradicionais abordam o tema de modo mais normal e realista. Seu trabalho se enquadra em um mundo racional; são histórias que “poderiam acontecer”. Estão na linha de metrô que atravessa o mundo externo. Há outros escritores – James Joyce, Faulkner novamente, poetas como T.S. Eliot, Sylvia Plath e Anne Sexton – cuja obra entra no território do inconsciente simbólico. Estão na linha de metrô que atravessa a paisagem interna. Mas o escritor de horror está quase sempre na estação que une as duas, pelo menos se ele está afiado. Quando está em sua melhor forma, muitas vezes temos a estranha sensação de não estarmos totalmente adormecidos ou acordados, o tempo se distende e sai de lado, ouvimos vozes mas não distinguimos as palavras ou o sentido, os sonhos parecem reais e a realidade parece um sonho.</i></div>
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<i>Trata-se de uma estação estranha e maravilhosa. Hill House fica ali, naquele lugar onde os trens passam nos dois sentidos, com as portas que se fecham de modo perceptível; a mulher no quarto com papel de parede amarelo está ali, rastejando pelo chão com a cabeça pressionada sobre aquela leve mancha de gordura; as criaturas tumulares que ameaçavam Frodo e Sam estão ali; e o modelo de Pickman, do conto homônimo de H.P. Lovecraft; o wendigo, o monstro canibal dos índios algonquinos no Canadá; Norman Bates e sua terrível mãe. Não há despertar ou sonhar nessa estação, mas apenas a voz do escritor, baixa e racional, falando sobre como o tecido resistente das coisas às vezes pode se rasgar de maneira assustadoramente repentina. O escritor lhe diz que você quer ver o acidente de carro, e ele está certo – você quer mesmo. Há a voz de um morto ao telefone… alguma coisa atrás das paredes da velha casa que pelo som parece maior do que um rato… movimentos ao pé da escada do porão. Ele quer que você veja todas essas coisas, e mais; quer que você coloque sua mão no vulto debaixo do lençol. E você quer colocar sua mão ali. Sim.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Estas são algumas das coisas que sinto que a narrativa de terror faz, mas estou firmemente convencido de que deve fazer mais uma, e esta acima de todas as outras: deve contar uma historia que mantenha o leitor ou o ouvinte fascinado por algum tempo, perdido num mundo que nunca existiu e nunca poderia existir. Deve ser como o convidado do casamento que pega um drink a cada três vezes que o garçom passa. Durante toda minha vida como escritor, tenho defendido a idéia de que na ficção o valor da história prevalece sobre todas as outras facetas do ofício da escrita; caracterização, tema, atmosfera, nada disso vale alguma coisa se a história não tiver graça. E se a história conseguir prendê-lo, todo o resto é perdoável. Minha citação predileta a respeito disso veio da pena de Edgar Rice Burroughs, que não é o candidato de ninguém para a vaga de Maior Escritor do Mundo, mas um homem que compreendeu por completo o valor da história. Na página um de A Terra que o Tempo Esqueceu, o narrador encontra um manuscrito numa garrafa; o resto do romance é a apresentação desse manuscrito. O narrador diz: “leia uma página, e eu serei esquecido”. É uma promessa que Burroughs cumpre – e muitos escritores com mais talento do que ele não.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Em suma, meu nobre leitor, eis uma verdade que faz o mais forte escritor ranger os dentes: com exceção de três pequenos grupos de pessoas, ninguém lê o prefácio de um autor. As exceções são: um, os parentes mais próximos do escritor (normalmente sua mulher e sua mãe); dois, os representantes oficiais do escritor (e o pessoal do setor editorial e afins), cujo interesse principal é descobrir se ao longo das divagações do autor alguém que foi difamado ou caluniado; e três, aquelas pessoas que de algum modo ajudaram o escritor em sue caminho. Essas são as pessoas que querem saber se o autor agora está tão cheio de si a ponto de esquecer que não chegou até ali sozinho.</i></div>
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<i>Outros leitores podem sentir, o que é perfeitamente justificável, que o prefácio do autor é uma imposição indecente, um comercial de várias páginas sobre ele mesmo, mais ofensivo até do que os anúncios de cigarro que proliferam na parte central dos livros de bolso. A maior parte dos leitores vem assistir o espetáculo, e não ficar vendo o contra-regra agradecer aos aplausos diante das luzes. Mais uma vez, isso é perfeitamente justificável.</i></div>
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<i>Vou me despedir agora. O espetáculo em breve começará. Entraremos naquele quarto e tocaremos o vulto sobre o lençol. Mas antes que eu vá embora, quero tomar só mais uns dois ou três minutos do seu tempo e agradecer a algumas pessoas que pertencem aos três grupos mencionados acima – e a um quarto grupo. Agüente mais um pouco enquanto digo alguns muito-obrigados:</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>À minha mulher Tabitha, minha melhor e mais afiada crítica. Quando ela sente que o trabalho está bom, diz; quando sente que meti os pés pelas mãos, consegue me colocar no meu devido lugar de maneira mais gentil e amável possível. Aos meus filhos, Naomi, Joe e Owen, que têm sido bastante compreensivos com a ocupação peculiar de seu pai no quarto lá em baixo. E à minha mãe, que faleceu em 1973 e a quem este livro é dedicado. Seu encorajamento era firme e constante, ela sempre parecia dispor de 40 ou 50 centavos para o envelope auto-endereçado e selado de resposta e ninguém – incluindo eu mesmo – ficou mais feliz do que ela quando consegui “chegar lá”.</i></div>
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<i>No segundo grupo, agradecimentos especiais vão para o meu editor, Willian G. Thompson da Doubleday & Company, que tem trabalhado pacientemente comigo, que tem suportado meus telefonemas diários com bom humor constante, e que foi gentil com um jovem escritor sem qualquer currículo alguns anos atrás, ficando ao seu lado desde então.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>No terceiro grupo estão os primeiros compradores da minha obra: Sr. Robert A. W. Lowndes, que adquiriu os dois primeiros contos que vendi em minha vida; Sr. Douglas Allen e Sr. Nye Willden da Dugent Publishing Corporation, que compraram tantos dos seguintes para as revistas Cavalier e Gent, nos velhos tempos de dureza em que os cheques chegavam bem a tempo de evitar o que a companhia elétrica eufemisticamente chama de “interrupção do serviço”.; a Elaine Geiger, Herbert Schnall e Carolyn Stromberg da New American Library; a Gerald Van der Leun da Penthouse e Harris Deinstfrey da Cosmopolitan. Muito obrigado a todos vocês.</i></div>
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<i>Há um último grupo ao qual eu gostaria de agradecer, o grupo composto por cada um dos leitores que um dia abriu a carteira para comprar alguma coisa escrita por mim. De muitas maneiras, este livro é seu, porque tenho certeza de que jamais teria acontecido sem você. Então, obrigado.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Aqui, onde estou, ainda está escuro e chove. Uma noite bem agradável. Há uma coisa que eu quero mostrar a você, uma coisa em que quero que toque. Está num quarto não muito longe daqui – na verdade, fica bem na próxima página.</i></div>
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<i>Vamos?</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i>Bridgton, Maine</i></div>
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<i>27 de fevereiro de 1977</i></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Fonte: http://fasebonus.wordpress.com/</div>
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K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-71158276889629617782018-01-21T04:32:00.002-08:002018-02-05T01:57:18.757-08:00Como nasce um paradigma.Textinho breve e ilustrativo de como funcionam os paradigmas.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de porradas. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o encheram de porradas. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..." </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao encontro dessa historinha, foi feita essa experiência com seres humanos, que, sinceramente, chega a ser assustadora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/luVeT1NjqbE/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/luVeT1NjqbE?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-507699197345358302018-01-21T04:07:00.002-08:002018-01-21T04:07:34.542-08:00Quisera<div style="text-align: justify;">
<i>“Quisera ter fé religiosa ou acreditar firmemente em alguma doutrina política... Mas tinha uma incapacidade absoluta para se enquadrar em partidos ou seitas. Reconhecia, com certa má vontade, que era indispensável uma fé firme para realizar grandes coisas. Se ele tivesse essa fé num deus ou numa idéia, haveria de orientar seus livros no sentido dessa fé política ou religiosa, não porque achasse que a arte deve ter uma coloração sectária, mas porque reconhecia estar o mundo vivendo um momento excepcional em que a ninguém é lícito ficar indiferente. O mundo estava doente. Era necessário curá-lo para que depois as criaturas humanas pudessem entregar-se à bela e simples tarefa de viver, de prosseguir na sua busca de beleza e de bondade. Mas... e se não houvesse cura possível? Se o homem, por uma lei inelutável, tivesse de ser sempre o lobo do homem?” (VERÍSSIMO, 1943)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-T9YjMGUESUB-FFPhQNNIoPWQYRfAKaNo7TYva3nVsfr6Hm2-1Cl8Zerlrgn4s5ktlw8jBk3lirQ6CqD-zqcK8K4jgqad0IIkujWQOvbG99ap1MJT-Qn5q1qR5E6HlVRWpA-gxVeVqzQ/s1600/image007.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="313" data-original-width="450" height="277" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-T9YjMGUESUB-FFPhQNNIoPWQYRfAKaNo7TYva3nVsfr6Hm2-1Cl8Zerlrgn4s5ktlw8jBk3lirQ6CqD-zqcK8K4jgqad0IIkujWQOvbG99ap1MJT-Qn5q1qR5E6HlVRWpA-gxVeVqzQ/s400/image007.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Érico Veríssimo</td></tr>
</tbody></table>
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<br /></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-5233216558652460562018-01-21T03:33:00.003-08:002023-07-01T09:10:13.049-07:00- Morte - 17 de Agosto de 2011.<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
Na vida real, a morte é bem mais prática e bem menos poética. Talvez por isso mesmo demore certo tempo para que nos demos conta da perda, do que ela de fato significa. É preciso chamar funerária, agendar horários, conseguir documentos que atestem a morte. O encapuzado de negro, com a foice na mão, não dá as caras, mas paira no ar, como uma cruel presença ostensiva, opressiva. Comprime nosso coração e o espreme até sair o suco salgado dos nossos olhos. Estupra nossa alma, nossa consciência, nos esgota com infinitas lembranças, infinitos remorsos irrevogáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas... <i>"a morte, se não deixa boca para sorrir, também não deixa olhos para chorar"</i>. Talvez por isso meu primeiro sentimento tenha sido de franco alívio pelo fim do sofrimento que afligia cruelmente minha avó nos últimos anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Demorou certo tempo para que eu entendesse. Só mesmo quando me dirigia ao velório é que as lágrimas começaram a rolar, e a impotência em segurá-las causava uma raiva muda, uma angústia amarga.</div>
<div style="text-align: justify;">
Chegando próximo ao caixão me escondi atrás dos meus pais, numa atitude quase inconsciente de protelação. Mas quando vi a imagem tão conhecida de minha avó, agora naquele corpo sem nenhuma vida ou expressão, senti o chão me faltar, e um vazio muito grande abriu espaço no meu peito. Um vazio sobre a vida, sobre qualquer sentido. Uma falta de qualquer coisa. Um sentimento de confusão absoluta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Toquei a mão gelada de morte, mas não senti minha avó. Minha avó já estava em qualquer outro lugar, ou em lugar nenhum, mas não mais ali...</div>
<div style="text-align: justify;">
A dúvida sobre tudo isso aqui gritava mais do que nunca dentro da minha cabeça...</div>
<div style="text-align: justify;">
Contudo, um consolo ecoava... <i>a morte, se não deixa boca para sorrir, também não deixa olhos para chorar</i>, e minha vó já tinha sofrido demais...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
_______________________________________________________<br />
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<i>Agradeço vó, por tudo.</i><br />
<i>Pelas sopas, pelo feijão com farinha de mandioca e pelos ovos cozidos.</i><br />
<i>Por me enganar na contagem das colheradas - nunca me dei conta de que o dez sempre coincidia com a última colherada do prato.</i><br />
<i>Obrigada, vó, pelas noites rezando terços, por me deixar controlar as contas do rosário e por me ensinar todas as orações, minhas primeiras leituras. Te agradeço por me ensinar a beleza poética da religião que sem nenhuma dúvida ajudou na formação do meu caráter.</i><br />
<i>Te agradeço, vó, por confiar em mim e deixar eu cortar teu cabelo quando ainda era criança, me senti tão importante.</i><br />
<i>Obrigada vó, por me comprar os vestidos de prenda, os chapéus de palha com rendinhas coloridas para andar no sol nos nossos longos passeios.</i><br />
<i>Obrigada por me ensinar que sentar na pedra fria faz mal pra bexiga.</i><br />
<i>Obrigada por me trazer um flan, um todinho ou um docinho em todos os finais de tarde de um pedaço grande da minha infância.</i><br />
<i>Por sentar no sol comigo, comendo laranja ou bergamota, e contar tantas histórias sobre a vida.</i><br />
<i>Te agradeço por narrar, ainda à luz da vela, naquela casinha de madeira, histórias de mistério que tanto me fascinaram.</i><br />
<i><br /></i>
<i>E sei cá comigo, no fundo, que deveria ter dito isso tudo pra ti em vida. Mas não deu, não fiz. Talvez o tenha feito em gestos, mas nunca tão explícitos quanto podem ser as palavras claras. Deixo aqui esse sincero agradecimento, talvez muito mais para lembrar a mim mesma das tantas coisas boas que vivi e que aprendi contigo, do que para fazer um arremedo de agradecimento, um remendo na vida. Ainda assim, essas poucas palavras deixam ver apenas uma fina fresta de luz da importância que tiveste na minha vida.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Esteja em paz minha vó.</i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i>A morte não é um mistério que amedronta.</i><br />
<i>Ela é uma velha conhecida nossa.</i><br />
<i>Ela não esconde segredos que possam perturbar o sono de um homem honesto.</i><br />
<i>Não vires o teu rosto ao ver a Morte.</i><br />
<i>Não te incomodes se ela parar tua respiração.</i><br />
<i>Não a temas, porque ela não é o teu amo que vem em tua</i><br />
<i>perseguição.</i><br />
<i>Não o teu amo, mas um simples servo do teu Criador,</i><br />
<i>aquilo ou Aquele que criou a Morte, e te criou — e que é,</i><br />
<i>ele sim, o único mistério.</i><br />
<i><br /></i>
<i>— LIVRO DAS LAMENTAÇÕES</i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7bb4yAaYHH4dZNFbrD7GuinGpVSA00_bhWiPt2BAnjTCdUlvNym6A_r9306_BiVI27n-UcR01ROBC9mAG1eg-K55f1mgauAT2oP2NPkRMmSvE2hbZSF8FPJZr4H1mdBV0st4VV1rs10Y/s1600/foto+004.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1404" data-original-width="1113" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7bb4yAaYHH4dZNFbrD7GuinGpVSA00_bhWiPt2BAnjTCdUlvNym6A_r9306_BiVI27n-UcR01ROBC9mAG1eg-K55f1mgauAT2oP2NPkRMmSvE2hbZSF8FPJZr4H1mdBV0st4VV1rs10Y/s640/foto+004.jpg" width="505" /></a></div>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-22810585822691002432018-01-21T02:47:00.002-08:002018-01-21T02:47:55.901-08:00Anos 80. 24 de Maio de 2011.<div style="text-align: justify;">
Esses dias, em algum lugar na internet, li algo do tipo ‘é, realmente, os anos 80 é a idade das trevas da música’. Bah! Minha primeira reação foi de revolta e indignação. Depois refleti um pouco, analisei, e percebi quão ignorante era o comentário. Primeiro, por fazer referência à idéia - que hoje pra qualquer pessoa esclarecida é no mínimo ingênua, pra não dizer superficial - de que a Idade das Trevas [Idade Média] realmente tenha sido um momento estéril culturalmente. Pensamento que durante muito tempo foi alimentado por uma atitude preconceituosa que nos dias de hoje é motivo de vergonha para os estudiosos ressentidos de outrora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Depois pensei: poxa vida, a pessoa prefere gastar tempo, energia e espaço, para depreciar uma arte admirada por outras pessoas, e que tem seu valor patente e inconteste. Por que não gastou esse mesmo tempo, essa mesma energia e espaço para falar bem de algo que gosta. Ou então que vá falar mal de coisa ruim mesmo, do tipo dessas bandas coloridas de hoje em dia, que nem de longe é uma questão de gosto, mas de mercado. Quem gosta e compreende mesmo o que representa a música, entende que o respeito é algo que independe de tu gostar ou não. Eu não sou muito do rock clássico, por exemplo. Mas respeito pra caramba, sei da importância, e, sobretudo, aprecio o valor artístico desses caras. O que muitos metidos a críticos de música por aí não entendem é que conhecimento musical é uma coisa e sensibilidade musical é outra bem diferente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Essas pessoas me parecem todas papagaios de pirata, me dão a impressão clara de sequer conhecerem realmente o som dos anos 80. São ridículas a prepotência e a arrogância de simplesmente ignorar, diminuir ou desvalorizar a arte de pessoas como Martin L. Gore, Dave Gahan, Vince Clarke, Robert Smith, Morrisey, Roland Orzabal, pra mencionar os mais conhecidos. Estão muito menos empenhadas em descobrir coisas belas, do que em perpetuar preconceitos burros e infantis. Um conselho a estas pessoas: Cresça e decida por si mesmo sobre o que gosta ou não, e, mais importante, respeite o que merece ser respeitado. Do contrário, você não passa de um fã de merda, fundamentalista, preconceituoso e burro, que acha que entende alguma coisa de música!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Concluo com uma música de uma das minhas bandas preferidas - de todos os tempos e de TODAS as semanas, hehe -, Depeche Mode, a qual devoto admiração que só cresce. A música é interpretada pelo Martin Gore, e é absolutamente linda.</div>
<br />
<div style="text-align: center;">
Macro</div>
<div style="text-align: center;">
Depeche Mode</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Overflowing senses</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Sentidos abundantes</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Heightened awareness</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Atenção aumentada</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>I hear my blood flow</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Eu ouço o meu sangue fluir</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>I feel its caress</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Eu sinto o carinho</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Whispering cosmos</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Cosmos sussurrante</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Talking right to me</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Falando comigo</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Unlimited, endless</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Ilimitado, infinito</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>God breathing through me</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Deus respirando através de mim</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>See the microcosm</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Veja o microcosmo</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>In macrovision</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Pela macrovisão</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Our bodies moving</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Nossos corpos se movendo</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>With pure precision</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Com pura precisão</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>One universal celebration</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Uma celebração universal</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>One evolution, one creation</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Uma evolução, uma criação</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Thundering rhythm</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Ritmo fulminante</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Pounding within me</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Triturando por dentro de mim</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Driving me onwards</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Dirigindo-me para frente</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Forcing me to see</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Forçando-me a ver</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Clear and enlightening</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Claro e esclarecedor</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Right there before me</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Bem à minha frente</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Brilliantly shining</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Reluzindo brilhantemente</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Intricate beauty</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Beleza intricada</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/6doNfUPV760/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/6doNfUPV760?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-26923082833245727512018-01-21T02:36:00.000-08:002018-01-21T02:36:15.367-08:00CREOLINA. 5 de Maio de 2011.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
A creolina espanta o indesejado bicho homem,</div>
<div style="text-align: justify;">
desinfeta e afeta o outro bicho homem,</div>
<div style="text-align: justify;">
que como bicho já não se vê.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pingos negros pelo chão, cantos pútridos a cada esquina.</div>
<div style="text-align: justify;">
As ruas encardidas de uma sujeira incivilizada.</div>
<div style="text-align: justify;">
O público é de ninguém, e como de ninguém é tratado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a solidão mora na multidão apressada, descompassada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Multidão que não enxerga nada, mas que acredita em tudo.</div>
<div style="text-align: justify;">
E para muitos, a vida passa encarnada num eterno desfile de modas...</div>
<div style="text-align: justify;">
E, sendo assim, desfilam estes nas calçadas, mijadas e imundas,</div>
<div style="text-align: justify;">
num espetáculo grotesco e pedante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Anda rápido se dando importância,</div>
<div style="text-align: justify;">
tira fotos, sorri, fala alto.</div>
<div style="text-align: justify;">
Encena a vida - todos nós, aliás.</div>
<div style="text-align: justify;">
À noite, se conecta e fica a carregar fotos,</div>
<div style="text-align: justify;">
numa ânsia de mostrar à todos quão feliz é sua vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mais que convencer à todos, quer é convencer a si mesmo</div>
<div style="text-align: justify;">
de uma felicidade artificialmente colorida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Alguns, porém, deveras sentem aquilo que encenam,</div>
<div style="text-align: justify;">
deveras desejam aquilo que buscam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Poucos, é verdade, cada vez menos... mas, ainda assim, alguns...</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgosbrOLl6FYGTH1bF9irKh74v_ImTDatLAGpQ88GoVX0_I4SWDViy3wHX-l3d39gPEv92lo5nFvksBfMZl_t9RcReuJ5UGHSmlM7eM5P1AzLMcrw07OQdx_Q1iFTDc3Q-Xev4Qs2Nge0s/s1600/selva-de-pedra.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="750" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgosbrOLl6FYGTH1bF9irKh74v_ImTDatLAGpQ88GoVX0_I4SWDViy3wHX-l3d39gPEv92lo5nFvksBfMZl_t9RcReuJ5UGHSmlM7eM5P1AzLMcrw07OQdx_Q1iFTDc3Q-Xev4Qs2Nge0s/s640/selva-de-pedra.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
<br /></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-35296426630104489142018-01-21T02:21:00.001-08:002018-01-21T02:21:09.016-08:00A morta. Guy de Maupassant, 1887.<div style="text-align: justify;">
[...] </div>
<div style="text-align: justify;">
Não havia lua! Que noite! Sentia medo, um medo horrível, nesses caminhos estreitos entre duas filas de túmulos! Túmulos! Túmulos! Túmulos. Sempre túmulos! À direita, à esquerda, à frente, à minha volta, por toda parte, túmulos! Sentei-me num deles, pois não podia mais caminhar, de tal forma meus joelhos se dobravam. Ouvia meu coração bater! E também ouvia outra coisa! O quê? Um rumor confuso, indefinível! Viria esse ruído do meu cérebro desvairado, da noite impenetrável, ou da terra misteriosa, da terra semeada de cadáveres humanos? Olhei à minha volta!</div>
<div style="text-align: justify;">
Quanto tempo fiquei ali? Não sei. Estava paralisado de terror, alucinado de pavor, prestes a gritar, prestes a morrer.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, de súbito, tive a impressão de que a laje de mármore onde estava sentado se movia. Realmente, ela se movia, como se a estivessem levantando. Com um salto, precipitei-me para o túmulo vizinho e vi, sim, vi erguer-se verticalmente a laje que acabara de deixar; e o morto apareceu, um esqueleto nu que empurrava a lápide com as costas encurvadas. Eu via, via muito bem, embora a escuridão fosse profunda. Pude ler sobre a cruz:</div>
<div style="text-align: justify;">
"Aqui jaz Jacques Olivant, morto aos cinqüenta e um anos de idade. Amava os seus, foi honesto e bom, e morreu na paz do Senhor."</div>
<div style="text-align: justify;">
O morto também lia o que estava escrito no seu túmulo. Depois, apanhou uma pedra no chão, uma pedrinha pontiaguda, e começou a raspar cuidadosamente o que lá estava. Apagou tudo, lentamente, contemplando com seus olhos vazios o lugar onde ainda há pouco existiam letras gravadas; e, com a ponta do osso que fora seu indicador, escreveu com letras luminosas, como essas linhas que traçamos com a ponta de um fósforo:</div>
<div style="text-align: justify;">
"Aqui jaz Jacques Olivant, morto aos cinqüenta e um anos de idade. Apressou com maus tratos a morte do pai de quem desejava herdar, torturou a mulher, atormentou os filhos, enganou os vizinhos, roubou sempre que pode e morreu miseravelmente."</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando acabou de escrever, o morto contemplou sua obra, imóvel. E, voltando-me, notei que todos os túmulos estavam abertos, que todos os cadáveres os tinham abandonado, que todos tinham apagado as mentiras inscritas pelos parentes na pedra funerária, para aí restabelecerem a verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
E eu via que todos tinham sido carrascos dos parentes, vingativos, desonestos, hipócritas, mentirosos, pérfidos,caluniadores, invejosos, que tinham roubado, enganado, cometido todos os atos vergonhosos, abomináveis, esses bons pais, essas esposas fiéis, esses filhos devotados, essas moças castas, esses comerciantes probos, esses homens e mulheres ditos irrepreensíveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Escreviam todos ao mesmo tempo, no limiar da sua morada eterna, a cruel, terrível e santa verdade que todo mundo ignora ou finge ignorar nesta Terra. </div>
<div style="text-align: justify;">
[...]</div>
<br />
Trecho de "A morta" de Guy de Maupassant.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin6VVDDkbnz00jM_b4tvFKIqFnHUk2NbgK2SyTnVACevix6u-4Hciws0XLye0EhipSZkeUoLrTEgj_bdbvibFqRX5EOnBL6fL781aKUDzPozB9rU9nCBLVgEk6YRjLZifBbRMVPrg8x1o/s1600/cemetary.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1066" data-original-width="1600" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin6VVDDkbnz00jM_b4tvFKIqFnHUk2NbgK2SyTnVACevix6u-4Hciws0XLye0EhipSZkeUoLrTEgj_bdbvibFqRX5EOnBL6fL781aKUDzPozB9rU9nCBLVgEk6YRjLZifBbRMVPrg8x1o/s640/cemetary.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div>
<br /></div>
K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8980797869385412965.post-35917353339977922842018-01-21T01:29:00.001-08:002018-01-21T02:41:20.541-08:00Estranhos heróis temos nós<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Vasco então disse que achava essas histórias de farroupilhismos e bravatas e gauchismos muito engraçadas e ridículas. Respondi que não havia nada de engraçado nem ridículo e que os meninos precisavam conhecer a História da sua terra. Eu devia ter ficado calada, porque Vasco se pôs sério de repente e começou a falar, a falar, a falar, despejando um verdadeiro discurso em cima de mim. Demos mais de dez voltas ao redor da praça e o Gato do Mato, sempre falando. Disse que era muito malfeito ensinar às crianças que guerras e revoluções são coisas bonitas, que os heróis são só os generais e os soldados que matam. Disse que enquanto nós professoras ensinarmos na escola que foram os brasileiros que ganharam a batalha do Passo do Rosário, que o Brasil é mais corajoso, mais belo e mais adiantado que a Argentina ou do que o Chile – não poderá haver paz. Disse mais que as crianças vão se criando acostumadas a ouvir elogios à guerra e aos guerreiros e acabam achando que matar é a coisa mais natural e necessária deste mundo.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Quando ele parou um instante para tomar fôlego, eu aproveitei a pausa e disse que os meninos deviam aprender a amar a Pátria. Quando falei em Pátria, Vasco ficou aceso de novo e disse que essa idéia de pátria que nós temos é uma bobagem, que todos os homens são irmãos, são iguais e que por falarem línguas diferentes, terem olhos e cabelos de cor diversa não quer dizer que devam andar se estripando em guerras. [...] Disse que as guerras que nós pensamos que rebentam por causa do famoso patriotismo, são geralmente provocadas pelos vendedores de armamentos e por outros grandes negociantes que podem irar partido das bagunças internacionais. p. 202</i></div>
<br />
<br />
[VERÍSSIMO, Érico. Clarissa. 38ª edição. São Paulo: Globo, 1995. p. 202]<br />
<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDhQOLPoNGDEgjLDDcXbvqrrSQyGE-UNqYnckhJgr2ua3LEu5jIvlRGXlKt2szS43k0dXjZDXmT37qSVhyphenhyphenqIDi05JcXPn5YDW5JtrurCgLL8HpRQkOhlsTcxTKrL4S6YiV29-iqUW7Hqg/s1600/Gaul+painting.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="935" data-original-width="1600" height="371" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDhQOLPoNGDEgjLDDcXbvqrrSQyGE-UNqYnckhJgr2ua3LEu5jIvlRGXlKt2szS43k0dXjZDXmT37qSVhyphenhyphenqIDi05JcXPn5YDW5JtrurCgLL8HpRQkOhlsTcxTKrL4S6YiV29-iqUW7Hqg/s640/Gaul+painting.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Battery H at battle of Cold Harbor. Gilbert Gaul, 1893-4.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br /></td></tr>
</tbody></table>
<br />K.http://www.blogger.com/profile/11279823804818393346noreply@blogger.com0