sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cultura do medo - Barry Glassner, 1999

Esse livro inspirou o documentário do Michael Moore, Tiros em Columbine, vencedor do Oscar de 2003. 
Eu iria além a respeito de ter "inspirado", porque me parece que a obra do Moore é o livro na forma de documentário, com mais ênfase em alguns dos aspectos de que o livro trata.
Enfim, o autor é um sociólogo, e sua obra vem acompanhada de extensas notas referenciais, com todas as fontes que utilizou em sua pesquisa.
O tema central do livro são os medos que se arraigaram em nossa sociedade, medos que na maioria das vezes são pouco ou nada refletidos e quase sempre infundados, plantados pelos diversos tipos de mídia na forma de alarmismos que fazem com que nós nos sintamos cada vez mais ameaçados, vulneráveis e inseguros.
Obra fundamental para nos ajudar no entendimento e compreensão do nosso contexto sócio-cultural, faz com que afinemos nossa crítica em relação as informações externas que nos chegam.

GLASSNER, Barry. Cultura do medo : por que tememos cada vez mais o que deveríamos temer cada vez menos. São Paulo: Francis, 2003. 342 p.


Tão importante quanto o que se diz na mídia são os silêncios, o que não se diz. p. 17

Os telejornais sobrevivem com base em manchetes alarmistas. Nos noticiários locais, onde os produtores vivem à custa da máxima “se tem sangue, não tem pra ninguém”, histórias sobre drogas, crimes e desastres constituem a maioria das notícias levadas ao ar. p. 31

A resposta sucinta a por que os americanos cultivam tantos medos ilegítimos é a seguinte: muito poder e dinheiro estão à espera daqueles que penetram em nossas inseguranças emocionais e nos fornecem substitutos simbólicos. Este livro fornece uma resposta mais extensa, identificando os verdadeiros vendilhões dos nossos medos, seus métodos de marketing e os incentivos que o nosso saldo precisa adquirir. p. 40

Grandes porcentagens não têm necessariamente grandes números por trás delas. p. 51

Relativamente a quase todos os temores americanos atuais, em vez de se enfrentar problemas sociais perturbadores, a discussão pública concentra-se em indivíduos perturbados. p. 53

Veja uma quantidade suficiente de brutalidade na TV e você começará a acreditar que está vivendo em um mundo cruel e sombrio, em que você se sente vulnerável e inseguro. p. 100

O medo cresce, acredito, proporcionalmente à culpa inconfessa. Ao se cortar gastos com programas educacionais, médicos e antipobreza para os jovens, comete-se grande violência contra eles. Porém, em vez de se enfrentar a responsabilidade coletiva, projeta-se a violência contra os próprios jovens e contra estranhos que se imagina que irão atacá-los. p. 137

Esse tipo de asserção ratifica uma observação atribuída a Harry Truman: “Não há nada novo no mundo exceto a história que não se conhece”. p. 140

As crianças podem apresentar uma variação biológica em seus níveis de atividade. No entanto, se for para considerar um alto nível de atividade como distúrbio de déficit de atenção, isso dependerá da nossa concepção em relação à sala de aula ideal. [Kenneth Gergen, 1997]
A nossa consideração também depende da prática médica ideal, como sugerem outros cientistas sociais e especialistas em ética médica. Do ponto de vista dos convênios de saúde da década de 1990, esse ideal às vezes resume-se a gastar o mínimo possível para eliminar os sintomas de um paciente. Por que proporcionar longas terapias individuais ou familiares para tratar de problemas de crescimento ou emocionais da criança ou problemas da família quando, com uma simples receita, é possível se livrar de comportamentos que perturbam os pais e professores? p. 144

Provavelmente a dependência dos políticos em relação à indústria farmacêutica para o levantamento de fundos para as campanhas eleitorais e a dependência da imprensa em relação à mesma indústria para receitas publicitárias têm algo a ver com aquelas formas de consumo abusivo que eles deploram. p. 243

Não deveria haver mistério sobre onde grande parte do dinheiro e força de trabalho pode ser encontrada - na própria cultura do medo. Desperdiçamos dezenas de bilhões de dólares e horas de trabalho todos os anos com perigos basicamente míticos, como fúria no trânsito, em celas de prisão ocupadas por pessoas que representam pouco ou nenhum perigo para os outros, em programas idealizados para proteger jovens de perigos que poucos deles jamais enfrentam, em indenizações para vítimas de doenças metafóricas e em tecnologias para fazer com que as viagens aéreas - que já são mais seguras do que outros meios de transporte - fiquem ainda mais seguras.
Podemos optar por redirecionar alguns desses recursos para combater perigos sérios que ameaçam grande número de pessoas. Na época das eleições, podemos escolher candidatos que apresentam programas em vez de alarmismos.
Ou podemos continuar a acreditar em invasores marcianos. p. 331

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