terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Alienista - Machado de Assis, 1882




Machado de Assis fala por si próprio. Sou uma grande admiradora da obra deste homem. O grande sarcasmo e ironia de seus escritos são fantásticos. O Alienista parece leitura batida, daquela obrigatória da escola, que a maioria ficou com trauma. O fato é que é mais uma trama muito bem elaborada, e o melhor dela, sobre a loucura. Entretanto o autor não aborda o tema tradicionalmente, ele o coloca sobre uma perpectiva ambígua que deixa qualquer um se perguntando sobre sua sanidade. Aqui vão algumas passagens:

...tão certo é que dificilmente se desarraigam hábitos absurdos, ou ainda maus. P. 29

O metal de seus olhos não deixou de ser o mesmo metal, duro, liso, eterno, nem a menor prega veio quebrar a superfície da fronte quieta como água de Botafogo. P. 38
Não há remédio certo para as dores da alma. P. 38
Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século. P. 45 (autor sobre o sistema de “matraca” da época)

- Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia. P. 45 (Simão Bacamarte)

Um comentário:

Rafael Alexandre disse...

Quando trabalhava com crônicas nas aulas de português da minha oitava série, propus uma sequência de texto do Machado de Assis. Lembro que discutiamos um bom tempo as leituras possíveis dos textos... no final do trimestre um aluno soltou a frase - uma das que fazem valer a pena ser professor - "Machadão é f0d@!": pode-se criticar o modo da frase, mas nunca o seu conteúdo...